Na próxima terça-feira, nos EUA, os republicanos vão ganhar as eleições intercalares para o Congresso – Câmara dos Representantes e Senado – e a maioria dos governadores. A imprensa liberal (de esquerda) está inquieta, Biden está aflito a achar que a democracia vai acabar, a senhora Pelosi vai deixar de ser «Speaker», e a Casa Branca ficará completamente bloqueada, pelos próximos dois anos. É a democracia, presume-se.
Esta onda vermelha tem um «pai», que se chama Donald Trump. Perdeu as presidenciais, mas nunca aceitou esse resultado, e nestes dois anos tem indicado, acarinhado, empurrado e ajudado os candidatos que pensam como ele, ou dizem o que ele gosta, e essa vitória embalará o ex-presidente para as eleições de 2024. Mesmo que Biden queira ir a um segundo mandato.
Trump nunca largou da mão do Partido Republicano, manteve o poder e a influência, e continua a «destruir» os adversários internos sem dó nem piedade. Tirando uma congressista, Liz Cheney – filha de Dick Cheney – que lhe fez frente depois do 6 de janeiro, mais ninguém o quis irritar ou condenar vigorosamente pelo que aconteceu. A melhor prova do seu comando está precisamente no caso de Cheney: nas primárias republicanas para estas eleições, o nome indicado por Trump derrotou, de forma inequívoca, a congressista.
Tendo Trump como padrinho, Bolsonaro está a seguir, passo a passo, a cartilha política do ex-presidente americano, embora com pequenas variações: não admitiu a derrota – é como se não tivesse existido – não invocou a fraude eleitoral, nem fez birra para o início da transição. Aqui Jair foi espertou, e aprendeu com os erros do padrinho. Mas vai ficar com o controlo do partido, puxar pela base mais extremada que o apoia, e fazer a vida negra a Lula, tanto no Congresso, como nas ruas e redes sociais, a maior fonte de desinformação planetária.
Trump tem uma vantagem que não se aplica a Bolsonaro. De dois em dois anos toda a Câmara dos Representantes vai a votos, e um terço do Senado. O que significa que os EUA estão sempre em campanha eleitoral. Este trunfo não tem Bolsonaro, e vai ter de esperar 4 anos, secos, para tentar voltar ao Palácio do Planalto. É muito tempo de desgaste político e eleitoral, mas na terça-feira os resultados nos EUA vão animar o ainda presidente brasileiro, visivelmente deprimido.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.