A matriz de risco usada pela DGS já teve de aumentar, em escala, para comportar a subida da incidência, e a da Ordem dos Médicos, embora só atualizada até à semana passada, coloca Portugal muito próximo do estado crítico, e neste indicador de avaliação estão também ponderados os números dos internamentos, cuidados intensivos e mortes.
Portugal, por estar no terceiro lugar do ranking de vacinação, e já com mais de 70% com a terceira dose, a partir dos 65 anos, serve de exemplo, provado, de que as vacinas não conseguem conter, ou anular, o contágio da Covid, e das suas duas variantes mais perigosas. E a primeira conclusão, se é possível tirar, é a de que não existe imunidade de grupo. A nossa incidência de novos casos, por milhão de habitantes, é superior à dos Estados Unidos (World Data Covid), e isso não era, de todo, suposto. Teoricamente impossível, diziam.
A segunda dedução, mais perigosa, e que resulta da primeira, é que os vacinados, e já mesmo com a terceira dose, são contagiados e contagiam, e isso prova que se devem manter, e em alguns casos reforçar, as medidas de proteção básicas, como o uso de máscaras. Ter um certificado de vacinação já não é suficiente, e daí a exigência dos testes. Os números de Portugal, que estão a aumentar em percentagens inquietantes, a cada semana que passa, mostra o dilema em que estão outros países: se 90% de vacinação não trava as vagas de Covid, como se vê no nosso caso, então que mais se deve fazer para encarar tudo isto com alguma normalidade?
Ninguém sabe, em boa verdade. Passámos 2021 a vacinar tudo e todos, e a reforçar, e a incluir as crianças, e a vaga não abranda, em lado nenhum. Os laboratórios já assumem que a imunidade vacinal é muito curta, que estão a criar outras fórmulas mais eficazes, mas também não será muito difícil perceber que as mutações virais estão muito à frente das inovações imunitárias. Há cenários muito pessimistas para os próximos tempos, com a Omicron a ajudar, como no Reino Unido, que convém acompanhar muito de perto. O Governo britânico vai dar a dose de reforço a toda a população, e nós não podemos perder muito mais tempo. Voltar ao estado crítico não constava das melhores projeções e adivinhações.
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