Rui Rio, cada vez mais centrado, e desprezando o eleitorado do CDS, IL e Chega – «meia dúzia de votos» – não acredita que vai ganhar as legislativas. No que ele tem fé, muita, é que a conjugação de razões históricas, e de disputas à esquerda, façam o PS perder. É disto que se trata. Não de uma vitória, mas de uma derrota.
Em Portugal, só três primeiros-ministros conseguiram governar 6 anos seguidos, sendo que o recorde de Cavaco, dez anos, é impossível de bater. Depois vem Sócrates, e agora António Costa. À velocidade a que agora vivemos, seis anos equivalem a 10, ou 16. É uma eternidade, e os eleitores cansam-se, fartam-se e mudam. Não por razões estritamente políticas, ou económicas, ou sociais, ou de pandemia (mais um vetor a acrescentar), mas por cansaço, simplesmente. Fatiga mediática.
A única hipótese de Rio, a 30 de Janeiro, é Costa perder. Parece absurdo, mas o que vai estar em causa, até com a desvantagem do PSD morar na mesma casa do PS, é se os 6 anos já esgotaram a paciência dos eleitores. Biden não ganhou as eleições americanas, há um ano, foi Trump que as perdeu, e o mesmo aconteceu em Lisboa, com Fernando Medina.
Quer tudo isto dizer que nunca há votos pela positiva? Longe disso. Mas essa qualificação só acontece, tradicionalmente, quando os que vão a votos ainda não exerceram o Poder, ou não são incumbentes. Não é o caso, nestas eleições. Temos um primeiro-ministro, e um adversário que também quer ser. Mas para o pretendente chegar lá, o primeiro tem de perder.
A história, por isso, favorece Rio. Mas para Costa perder também é vital que a CDU e o Bloco não se deixem afundar. E parecendo isto um paradoxo, uma incongruência, um erro – a esquerda da esquerda a eleger Rio – é eleitoralmente possível. António Costa, por isso, é o único que será referendado em janeiro.
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