Cavaco Silva está preocupado, desanimado, e explica, em pormenor, as razões para isso: continuamos o ciclo de empobrecimento, em comparação relativa com a União, não é o PRR que nos vai salvar dessa degradação das condições de vida, o Governo apoiado pela esquerda não usou o balanço iniciado por Passos Coelho, e a oposição é fraca, invisível, e não tem soluções alternativas. Cavaco deu três tiros certeiros. Assim não vamos lá.
A primeira verdade de Cavaco, indesmentível, é a debilidade política e eleitoral da oposição. E isso é o retrato do PSD. Incapaz de ser uma alternativa, Rui Rio está a contribuir para a eternização dos socialistas, e dos outros partidos de esquerda, no Poder. Nos últimos 20 anos, o PSD, coligado, governou pouco mais de 6 anos. Seis! É a aniquilação confrangedora do centro-direita em Portugal. Só Passos Coelho conseguiu fazer uma legislatura, ganhar novas eleições, e ser derrubado em 12 dias.
Depois vem o fado nacional: pobres, mas agradecidos. Dois milhões de portugueses – uma vergonha – vivem em estado de pobreza, e 14 anos de socialismo não alteraram essa desgraça. Só agravaram, diz Cavaco. O empobrecimento é endémico, ou mesmo pandémico, verificando-se também uma degradação evidente na classe média. É cada vez mais baixa, e mais incapaz de dar um salto em qualidade de vida. Aos milhões de pobres juntam-se outros tantos de remediados, e com isso estamos a falar de quase metade do país. Cada vez mais pobre, mais envelhecido, e mais abandonado.
E por último, Cavaco não acredita no milagre o PRR. Tal como ele, muitos outros também acham, ou concordam, que os 16 mil milhões da União não vão virar o país do avesso. Longe disso. Existirão sectores muito beneficiados, o PIB até crescerá, mas o efeito a longo prazo levanta sérias dúvidas. A decadência do país, escreveu o ex-PR, vai manter-se. Devagarinho, lentamente, vamos continuar a descer a encosta. Quando quer, Cavaco não se engana.
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