O primeiro-ministro (PM) está visivelmente impaciente, ansioso e apreensivo. Tem tudo, e não tem nada. Tem nas mãos um Orçamento de Estado para 2022, mas não tem, ou ainda não conseguiu, um apoio claro à esquerda, do PCP ou Bloco, para ser aprovado. Essa impaciência transbordou no debate parlamentar, em alguns casos irritando-se, e as múltiplas tentativas de sedução à esquerda, de uma forma aberta e transparente, mostram um Governo fragilizado e inquieto. É muito bom ter um OE novinho em folha, mas de nada vale se tiver de ser todo remendado.
António Costa, no fundo, até sabe que existirá um Orçamento aprovado, mas nunca será o que o Governo e o ministro das Finanças vão entregar daqui a 4 dias. É, para todos os efeitos, um documento tentativo, mais ou menos fictício, que andará ao sabor do PCP e do Bloco. É interessante de ver como a vida política mudou, radicalmente, num espaço de duas semanas. O PS até ganhou as autárquicas, mas também as perdeu, mediaticamente, com a queda de Lisboa e de Coimbra. E esse mau resultado, percecionado pelas pessoas e partidos, colocou a bola, ou o jogo, ou decisão final – sobre o futuro do Governo – nas mãos de dois partidos, que até saíram mais fracos das eleições. Irónico.
Daí vem a apreensão de Costa, tradicionalmente muito positivo e pragmático. O PM não gosta, de todo, de ser deixado sozinho, sem resposta, e sem ter a certeza do final do filme. Isso inquieta-o. Ele já se mostrou preocupado, apelou abertamente ao PCP e ao Bloco, para que não o abandonem, e ficou sem resposta. Claro que estes dois partidos, e todos os outros, não mostrarão as cartas antes de conhecer o documento, mas por esta altura, noutros tempos, já existia um caminho aberto e um diálogo construtivo. Pois era, mas antigamente.
Uma coisa nós sabemos deste primeiro-ministro: não abandona uma boa luta, não desiste nunca, e encontra sempre um caminho para chegar onde quer. Antes assim. Os outros bem podem não querer alinhar, ou ajudar, mas ele não os larga. António Costa é o “Pai, e o Filho e o Espírito Santo” da melhor doutrina dos que governam em minoria.