Faz todo o sentido não renovar o estado de emergência. Desta vez foi duro, prolongado, e profundamente penalizador. Mas teve efeito, poupou mortes desnecessárias, retirou o SNS do descontrolo de janeiro, e deu algum tempo para começar a surtir um ligeiro efeito o processo de vacinação, em especial acima dos 80 anos, que estavam a ser dizimados. Esta emergência cumpriu. O problema, que temos de meter nas nossas cabecinhas, é que uma terceira emergência dará cabo de nós. Dos que ainda estão vivos. Dos que resistem. E num país em que o ministro das Finanças se gaba de ter o défice mais bem controlado da União, com as cativações brutais que continua a fazer, então será o desastre nacional. Aí fechamos o país e vamos embora.
Por agora ninguém sabe ao certo, mas é natural que exista uma angústia miudinha nos decisores políticos, nos cientistas e especialistas que aconselham o Governo, e particularmente nas equipas de profissionais de saúde dos hospitais, públicos como privados. Já entrámos num estado de emergência a jurar que não teríamos mais nenhum, mas veio a segunda dose, muito mais demolidora, e por muito mais tempo, e agora há uma 4ª vaga na Europa, com as variantes das variantes – agora é a indiana – e todas as cautelas são poucas.
A grande notícia, contudo, é que poderemos estar muito rapidamente à beira da imunidade de grupo, entre junho e julho, se o calendário da União Europeia se continuar a cumprir com o reforço maciço de vacinas da Pfizer e Moderna, não eliminando deste baralho as que estão a ser entregues pela Johnson e Astra. Isso sim, é o que nos pode safar. Ou pelo menos aguentar.
A imunidade de grupo, já agora, não é o cúmulo da nossa salvação: o vírus não se extingue, não se dá como morto, com 70 por cento da população vacinada. Trava, diminui, corta a transmissão, mas em cada dez pessoas existirão três que podem transmitir entre si, e eventualmente a algum dos vacinados, que obviamente não tem imunidade total e garantida. O que descansa mesmo, ou assim-assim, é ter a população toda vacinada e não deixar entrar ninguém sem essa condição. O que é discriminatório, intolerável, e profundamente egoísta. Para não dizer mais. Mas que tem de ser feito.
Seja como for, este vírus, e as suas mutações, vai acompanhar-nos por muito tempo. Ou mesmo para sempre. Mas passará à classe dos clientes habituais, com um cuidado especial para todos os de 60 anos para cima. Esta emergência terminou. Não aguentamos mais nenhuma.