A TAP perdeu 1.2 mil milhões de euros em 2020. Só? Há algum espanto, particularmente político. É difícil de perceber, mesmo avaliando todas as circunstâncias. Existe alguma companhia no mundo que tenha tido resultados positivos? Companhias de bandeira? (ver o artigo de Paulo M. Santos aqui na VISÃO online) Felizmente, para todos nós, a TAP e o País são pequeninos e os desastres nunca podem ser de dimensão catastrófica. Só perdeu mil e duzentos milhões de euros?
Alguém se esqueceu do ano de 2020. E deste, que ainda vamos em abril. A TAP vai perder outro tanto em 2021, mesmo com os cortes e reestruturação, e ninguém consegue avaliar, com rigor, quando é que o setor de aviação poderá regressar a alguma normalidade. Nem aqui, nem em lado nenhum. Depende de milhões de fatores, dos quais não controlamos um único. As companhias aéreas serão as últimas, ou quase, na linha de normalização da vida dos países, regiões e continentes. Antes disso, e em primeiro lugar, estará a decisão de cada país em relação aos voos vindos de outros destinos, o controlo global que vai ser aplicado, como aceitar e validar o documento de garantia de que uma pessoa está vacinada, e que destinos, em vários continentes, ficarão “fechados” até se conhecerem dados fidedignos sobre a pandemia e vacinação.
Não há, para a TAP, e todas as outras, um plano de negócios que seja confiável. Podem inventar, mexer no excel, mas não passará disso. Podem até achar que a partir de 2022 a vida normalizará, mas até isso é uma ousadia difícil de sustentar. Pode ser, ou não. E será sempre melhor ter em mente o pior cenário. Nenhum Governo, nenhuma companhia de aviação, nenhum sábio consegue antever os próximos anos. Acreditamos que a Europa até vai estar em imunidade de grupo muito rapidamente, mas tal como disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, isso servirá de pouco se a maioria dos países continuar sem dinheiro e sem saber o que fazer à pandemia. A única hipótese era a Europa passar a viver num bunker, mas isso mataria as companhias de aviação.
Há, apesar de tudo, uma certeza que todos temos: nos próximos anos a TAP vai custar muitos mil milhões ao Estado. E não há outra saída. Sendo uma bandeira nacional, é uma empresa de soberania, e isso paga-se caro. E numa pandemia é mil vezes mais caro.