O Tribunal Constitucional chumbou a Eutanásia. E o Presidente vetou. O TC acolhe um dos argumentos do Presidente da República, mas acha que a inviolabilidade da vida é ultrapassável. Estranho argumento. Em que circunstâncias é que a vida é violável? Existem ressalvas na Constituição? Adendas? Seja como for, se quiserem eutanasiar (que não existe como verbo), então suprimam, aproveitem, limem e apaguem mais umas tantas garantias, que causam muitas chatices.
A Eutanásia, por agora, morreu. Que desilusão para os que aprovaram esta lei, que não é assim qualquer coisa, e que não nos faz nenhuma falta. Bem entendido, para os mais empolgados, que a morte seria administrada suavemente, confortavelmente, serenamente. Sem hipótese de recuo. E vem numa injeção como em nenhuma outra: com 100 por cento de eficácia.
O Parlamento aprovou essa lei a 29 de Janeiro de 2021, como se tivesse sido mais um dia normal, sem notícias relevantes. A Eutanásia vinha mesmo a calhar no calendário nacional. E adequava-se, excecionalmente bem, a um dos piores dias da Covid em Portugal: 13.200 novos contagiados, 278 mortes, e um total de 6627 internados, dos quais 806 estavam em cuidados intensivos. 29 de Janeiro de 2021: que belo dia para a Eutanásia.
Os médicos estavam em sofrimento ético – quem se salva e quem morre – os hospitais em modo de medicina de guerra, o país sem saber o que fazer, as pessoas assustadas e confinadas, e uma maioria de deputados dedicada a debater e a aprovar a morte rápida, sem dor nem lágrimas. Nesse dia, a essa hora, naquele momento, os senhores deputados estavam em que país? Tirem a Eutanásia da cabeça. Mortes já temos muitas, demasiadas, e que nos bastam.