Quem perdeu as presidenciais? As sondagens. Em tudo. Logo a começar na taxa de abstenção prevista, que levou muitos comentadores a achar que era uma grande lição de civismo dos portugueses. Os portugueses cumpriram, mas era óbvio que a pandemia e o confinamento iriam ter um peso devastador na afluência às urnas. Só numa coisa acertaram, que não nos números, mas na vitória de Marcelo à primeira. A realidade mostrou, depois, que a reeleição foi conseguida com um resultado excecional, e que não existindo este nível de abstenção, Marcelo teria ultrapassado o melhor resultado de Mário Soares.
Tudo o resto foi um desastre completo, e as televisões todas levaram algum tempo a perceber que a realidade não correspondia a nenhuma das previsões iniciais. Aliás, o escrutínio eleitoral foi rápido, e ainda mais quando os resultados já mostravam um quadro muito diferente do que se previa.
Claro que há milhões de explicações para esse desastre na previsão eleitoral, que se ouvirão nos próximos dias, mas nada disso invalida o que foi a expetativa criada em relação a todos os candidatos, depois de Marcelo, e a deceção que se seguiu. A noite eleitoral morreu sem glória.
A abstenção é pesada, muito, mas não penalizou Marcelo, nem, aparentemente, André Ventura, que conseguiu um lugar que ninguém lhe atribuía, pelo facto de que o voto neste candidato, como no Chega, ser de um eleitorado que não revela a sua intenção. A votação de Ana Gomes desiludiu muito, para não falar de Marisa e João Ferreira. Esta esquerda encolheu significativamente nestas eleições, e o candidato liberal, um pouco como na campanha e nos debates, não convenceu, e os votos foram para Marcelo. Ao mostrarem as projeções, o candidato da Iniciativa Liberal era dado como a maior surpresa da noite, logo a seguir a Ana Gomes e André Ventura.
Salva-se a noite com a eleição direta, expressiva e contundente de Marcelo Rebelo de Sousa, que foi, até agora, o melhor Presidente da República em democracia. Para mim, e para uma maioria sólida e quase histórica dos portugueses. E sendo o melhor, o mais próximo, o mais preocupado, o mais empenhado, e o mais afetivo, não poderia deixar de cumprir mais 5 anos. É o pior momento para ser Presidente, com crises dramáticas sucessivas, e para isso, por muito exigente, extenuante e cansativo que seja, é fundamental ter em Belém um chefe de Estado estável, exigente, capaz de ajudar e apaziguar. Este Presidente nunca gostou de crises, ou de instabilidade política, e isso é um fator decisivo nos próximos tempos, que podem ser alguns anos.
Marcelo Rebelo de Sousa foi e será, sempre, um Presidente como nenhum outro: um simples cidadão que “está” Presidente, por escolha dos portugueses, que não liga nada à liturgia e pompa do cargo, que está permanentemente em contato com os cidadãos, conhece o país como poucos, e sempre disponível para ouvir, uma das suas melhores caraterísticas. Ouve e dá a sua opinião. Este Presidente reeleito está no lugar certo, quando o país mais precisa. E isso foi o que os portugueses disseram e confirmaram nestas eleições, que felizmente não foram adiadas.