Os postigos e quejandos é que são os culpados da catástrofe do Covid. Não é para brincar, mas foi uma das mensagens centrais do primeiro ministro. Se é assim, se não se vai ao fundo, se não se corta pela raiz, então é melhor arrumar as botas. Literalmente. É um verdadeiro enigma a dificuldade do Governo em assumir que estamos numa situação de catástrofe, e que nessas circunstâncias a única medida a tomar é fechar o país todo. Sem se perder mais tempo. Sem se esperar que tudo piore. Sem esperar que se multipliquem os contagiados e mortos. O que o PM fez, hoje, foi uma total desilusão. Os postigos e as pessoas são os grandes culpados desta situação. Os primeiros fecham-se, e os segundos que ganhem juízo. Por amor de Deus! O que António Costa deveria ter feito, sem nenhuma hesitação, era parar integralmente o país, e começar pelos milhões que se deslocam por causa das escolas. Não compreendendo isto, não compreende nada. Não fechando as escolas, mas apenas os postigos, o Governo está desconcentrado, incapaz de perceber a realidade, e confuso com as medidas que deve tomar. Mas é importante ser muito claro nesta fase das nossas vidas: quem é que diz ao PM que são estas medidas ridículas que resolvem tudo? Ou quase. Quem são esses génios? Obviamente que não é o PM que as escolhe e que as elenca. Só pode ser um grupo de iluminados. O mesmo, eventualmente, que acha bem não dar a segunda dose da vacina, na data recomendada. A primeira coisa a fazer, já gora, era despedir essa equipa.
É o café do postigo que causa milhares de contagiados todos os dias? É a compra de umas meias? É a passagem pelo Jardim? É o passeio pelas zonas costeiras? O Governo sabe que não, mas acha que tudo isso é muito importante e decisivo. O apelo vigoroso ao civismo das pessoas, ao sobressalto, é um gesto que não funcionou em nenhum país, e não será aqui a exceção. Se mais de metade circula, porque o Governo quer, é evidente que os restantes assumem que podem e devem fazer o mesmo. As pessoas vacilam com as indecisões dos seus Governos. Um confinamento geral deveria dizer tudo. Confinamento, e geral! Tudo em casa, como em Março e Abril. Não há meias medidas, pequenos acrescentos, que só desacreditam a estratégia do Governo em relação ao Covid. Mais um ato falhado, que tem consequências desastrosas. Não é até ao dia 24 que os números vão continuar a subir – ninguém sabe de onde vem essa ideia – mas Fevereiro poderá ser muito mais dramático. E nem vale a pena de falar de Março, ou Abril. Se 2020 foi grave, 2021 é gravíssimo.
E agora, o que temos, todos os dias, são hospitais em estado de guerra, a praticar medicina de guerra, com decisões inaceitáveis sobre quem é internado ou não, ou quem vai para a UCI, ou quem recebe oxigénio, ou quem é abandonado à sua sorte. O que o Governo está a fazer, de cabeça perdida, é achar que pode dedicar a quase totalidade dos hospitais ao Covid, sem conseguir conter essa onda, e deixar que também morram, sem ajuda nem socorro, os doentes urgentes de todas as outras patologias. O que o Governo também está a decidir, e não deveria, é ele próprio escolher quem se salva, e quem não tem hipótese. É absolutamente inaceitável.
Se tivesse fechado o país, a sério, há muito tempo, teria reduzido o número de mortos do Covid, e de outros tantos milhares, que não tiveram médico para os atender, cirurgias para fazer, ou UCI para ficar. É absoluto e total dever de um Governo olhar para o quadro geral da catástrofe da saúde. Se não é assim, então não precisamos de nenhum Governo. Um último pormenor: na conferência de imprensa, o PM sublinhou que o Governo cumpre e regulamenta o decreto presidencial de emergência, dentro dos limites e no âmbito do que decidiu o PR. Isto era uma resposta à teimosia de não fechar as escolas. Percebemos bem? A culpa é do PR? Ele é que não quer fechar as escolas? Agora sim, estamos todos na dúvida: ou é dos postigos, ou é do Presidente da República.