Não há comentários agradáveis para a compulsão de Trump em mostrar que está bem, a reagir ativamente contra o SARS-Cov2, e a querer regressar ao trabalho normal na Casa Branca. O passeio em redor do Hospital foi uma idiotice chapada, para além de ter sido caricato e, como afirma um médico de Walter Reed, vai colocar em quarentena todos os que estavam com ele na «besta». No mínimo, Trump não teve nenhum respeito pelos que o protegem e ajudam.
Há, contudo, se tudo correr bem, uma grande lição a tirar do contágio do presidente dos EUA com Covid19. Internado sexta feira, com sinais sérios e graves, e apesar dos seus 74 anos e visível obesidade, para além de outras eventuais e naturais pré-condições, foi possível à equipa médica, com alguns dos melhores especialistas em várias áreas, não só controlar de imediato a progressão da doença, como fazer uma recuperação em poucos dias, o que é extraordinariamente importante como modelo medicamentoso a seguir.
Sabe-se que Trump foi sujeito a uma terapia de choque, que passou pela aplicação de anticorpos sintéticos monoclonais (REGN-COV19) – experimental, da Regeneron – mais Remdesivir, Dexametasona e um conjunto de reforços vitamínicos. Confirmando-se esta terapia medicamentosa, e o seu sucesso num septuagenário com um prognóstico pouco favorável, e sem aparentes efeitos disfuncionais em órgãos vitais, como fígado, rins, coração e pulmões, passamos a ter uma terapia com evidente sucesso. Pela certa já foi aplicada em dezenas ou centenas de doentes, e isso pode ser um avanço muito importante no combate e regressão do Covid19, nesta fase sem medicamentos específicos nem vacina.
Não querendo, e não estando para aí virado, Trump com Covid-19 até deu uma grande ajuda. Serviu de teste, com um impato mediático em todo o mundo, a um menu terapêutico muito eficaz, que reduz o tempo de internamento, e faz a respetiva regressão das fases mais dramáticas do SARS-CoV2. É preciso muito dinheiro para ter acesso a este cocktail, mas para isso é que servem os sistemas nacionais de Saúde. É o nosso caso? Bem precisamos. Os contágios sobem em flecha, os internamentos são às centenas, e as mortes já atingem dois dígitos.