Neste Governo, que tem poucos meses, e que meses, há duas ministras acima da média, daqueles casos que só se revelam em estados de crise – aí é que se deteta o «fator Churchill» do livro de Boris Jonhson – e um ministro, que sendo invulgar, e também excecional, se tornou num fantasma. Por razões explicáveis?
Marta Temido. 46 Anos. A idade certa. Licenciada, mestrada e doutorada, revelou-se positivamente nesta crise. Contida, direta, sem medo das dificuldades e lacunas, está na linha da frente da pandemia, desde a primeira hora. Ou até antes. Passou de coronel a general por mérito e direito próprio. Nunca nos colocou numa posição de tentar decifrar o seu discurso político, por estranho que pareça, e sempre nos disse o que estava a acontecer, e o que poderia antever. Parece uma miúda refilona, mas ganhou os galões em batalha. Um dia, depois disto tudo, terá de ser condecorada pela Presidência da República.
Ana Mendes Godinho. 48 anos. A idade ótima. Licenciada em Direito e com experiência executiva, como secretária de Estado, assumiu a dificílima pasta do Trabalho e Solidariedade Social, quando tudo parecia organizado e tranquilo. Azar. Vai passar a estar em primeiro plano. Mostrou-se temerosa, agastada, surpreendida? Não, nunca, até agora. Demonstra grande racionalidade, eficácia, e controlo de uma situação para que ninguém está preparado. Também não é uma das políticas da velha escola, do «logo vemos», «estamos a avaliar», «decidiremos no momento certo». Tinha o Trabalho como tarefa prioritária e, de repente, teve passar para o modo Solidariedade, Ajuda, Lay-off, desemprego, e tragédias inenarráveis. Quanto mais Marta Temido se apagar, mais Ana Godinho terá de estar na primeira fila. A ser, obviamente, condecorada pelo Presidente da República, um dia mais tarde.
Mário Centeno. Quem não gosta dele? E só tem 54 anos. Fez o que nunca ninguém conseguiu, apenas em quatro anos. É senhor de um curriculum impressionante. Mestre e Doutor por Harvard, professor catedrático, e senhor de Matemática Aplicada. Onde devia estar, agora, desapareceu. Não se vê. Raramente. Na verdade, e por estranho que seja, afinal não é bom ser presidente do Eurogrupo. 80 ou 90 por cento do seu tempo, e capacidade, está em Bruxelas, a conciliar, a consensualizar, a atenuar. O problema, contudo, é que antes de ser presidente do Eurogrupo era ministro das Finanças de Portugal. Aliás, uma coisa não é possível sem a outra. Que tal mudar de programa? Fazer o reset? Repor as configurações de fabrico? Chamamos por ele, e não aparece. Precisamos dele, e não está. Merecerá uma condecoração, não pelo que fez, mas por aquilo que ainda vai ter de fazer.