Trata-se dum velho ditado popular africano que tem vindo a provar-se mais adequado às diferentes situações de tensão internacional, a cada dia que passa.
Ainda esta semana Erdogan fez um aviso muito sério, não apenas à Grécia e ao vizinho Chipre, mas a todos os que apoiarem a pretensão daqueles dois países em travarem a exploração do gás natural no Mediterrâneo, em águas territoriais que reclamam como suas.
Além do enorme poder militar da Turquia, que a coloca no ranking dos países com maior exército da zona NATO, o sr. Erdogan conta com outra “arma” poderosíssima: os refugiados.
Ainda não há muitos meses, numa clara demonstração de poder negocial, ameaçou abrir as fronteiras com a vizinha Grécia e deixar sair dos campos a vaga de pessoas que se amontoam às portas da Europa.
Erro estratégico e de principiante este da UE, ao tentar resolver um problema através de um outsourcing com um país “ tampão”, cuja política relativa a Direitos Humanos é no mínimo questionável.
Ao não ter uma estratégia comum e uma solução firme para lidar com a realidade dos fluxos migratórios e de refugiados, a Europa colocou-se nas mãos de um – não tenhamos qualquer receio de chamar os elefantes pelo nome – ditador, que usa esses seres humanos como reféns de uma chantagem que, mais cedo ou mais tarde levará a UE a ajoelhar-se perante as suas pretensões.
Não acredito num confronto bélico aberto entre países, cujo desfecho é sempre imprevísivel. As manifestações de força naquela região do Mediterrâneo são apenas fogo fátuo.
A grande arma que o sr. Erdogan irá esgrimir será a da abertura das fronteiras e o êxodo incontrolável que isso implicará.
Acresce a todas as questões que tal situação implicaria o facto de estarmos em pleno combate da pandemia e, muito embora não haja números sobre a situação que se vive nesses campos, não restarem quaisquer dúvidas de que o vírus se movimenta nesses locais a seu belo prazer.
Não existe forma de isolamento ou distanciamento social. A higienização nestes locais é uma utopia. E quanto a testagem… não brinquemos!
Conclusão: a Turquia conseguirá todos os seus objetivos sem um único ato militar. Basta usar os “escudos humanos” que a própria Europa lhe ofereceu.
Pode usá-los agora ou mais tarde. Mas não tenhamos dúvida de que o fará!
Estamos à espera de quê para pôr (realmente!) em prática uma política migratória e de asilo comuns?