Há uns anos fui entrevistar um superespecialista de uma das “big five” consultoras mundiais. Esperava encontrar um guru cheio de ideias sólidas e inovadoras para o setor financeiro, mas, em vez disso, debitou-me meia dúzia de chavões (que vendia a peso de ouro). Explicou-me, com autoconfiança assinalável, ideias como “a chave é o cliente” ou “é preciso olhar para a questão de outra perspetiva”. Nesta conversa, não faltou o velho cliché que assegura que, em chinês, a palavra crise é weiji, uma justaposição de “perigo” (“wei”) e “oportunidade” (“ji”). Repetido à exaustão até por figuras como Kennedy, acabou por se tornar uma das máximas favoritas da autoajuda empreendedora. Em boa verdade, o carácter “ji”, sozinho, não tem qualquer conotação positiva, e significa apenas momento crucial… de perigo.
Com ou sem mito urbano, a noção de tirar proveito das crises é uma tirada recorrente. O Presidente da República escolheu, por estes dias, uma imagem alternativa, mas que vai dar ao mesmo: a de beneficiário líquido. O conceito designa os países que têm mais a ganhar com uma situação do que a perder, no caso da Europa, por exemplo, aqueles Estados-membros cujas contribuições financeiras para o Orçamento da UE são inferiores às transferências que recebem.