Dia 18.
É um desalento olhar para o que se está a passar em Espanha. Na Europa, o país vive neste momento uma das situações mais críticas, a aproximar-se a passos largos da Itália. A situação é dramática.
O sistema de saúde nalgumas cidades está à beira da ruptura. Com quase 10 mil elementos das equipas médicas contaminados e em quarentena forçada e o aumento exponencial dos casos graves a necessitarem de assistência, existem neste momento várias unidades de cuidados intensivos em colapso. As imagens dos doentes colocados nos corredores, no chão em cima de lençóis, a aguardar que de camas ou pelo menos sofás ficassem disponíveis são impressionantes. Como devastadoras são as descrições dos militares, que em missão de salvamento e desinfestação, entraram em lares de idosos e viram situações inimagináveis em 2020 – cadáveres que jaziam nas suas camas, ao lado de outras pessoas doentes.
Neste momento, Espanha tem um dos mais elevados rácios para analisar a evolução do vírus pelo mundo, que é o número de casos por habitantes de um País. Tirando nações muito pequenas como San Marino, Cidade do Vaticano ou Gibraltar, Espanha lidera este ranking com 2019 casos por milhão de habitantes, mais do que a Itália (1750 casos), a China (57) ou os EUA (528). Portugal tem neste momento 730 casos por milhão de habitanmtes. (veja gráfico abaixo). Espanha tem também uma das mortalidades mais elevadas, imediatamente abaixo da Itália (177 mortos por milhão de habitantes, em Itália 206).
Uma combinação de fatores explica os números preocupantes de nuestros hermanos. A enorme tendência para a socialização – com os espanhóis a acumularem-se diariamente em cafés e esplanadas –, a grande proximidade das gerações mais novas com as mais velhas e a elevada mobilidade dos espanhóis ditaram uma propagação muito rápida. E uma pitada de azar também: um dos momentos determinantes pode ter sido um jogo de futebol entre o Valência e a equipa italiana Atalanta, de Bérgamo, que decorreu em Milão a 19 de Fevereiro. Mais de 3000 fãs espanhóis foram assistir ao jogo, e o estádio estava repleto de fãs da cidade-mártir que vive agora dias difíceis.
O facto de as populações não terem aderido ao confinamento voluntário e de a quarentena ditada pelo estado de emergência, aplicado a partir de 16 de março, não ter sido levada com rigor logo de início pode ter sido também determinante. Pouco tempo antes, tinham-se juntado em Madrid 120 mil pessoas nas ruas no dia da mulher, a 8 de março. Como está à vista, uma rápida propagação inicial é muito difícil de conter. Oxalá se consiga, mas aplanar a cuva torna-se uma tarefa mais exigente e morosa.
Face aos malogrados exemplos mais próximos, temos de olhar para o que se está a passar em Portugal com alguma fé. As medidas foram implementadas cedo e, ainda assim, com mais rigor. Não, não vamos todos ficar bem, mas somos capazes de, apesar de tudo, nos sairmos menos mal.