Os números, apesar de exatos, podem ser enganadores. Tudo depende do contexto e da forma como olhamos para eles. Só isso explica, por exemplo, que a nossa reação coletiva, quando nos alertam para o facto de o nível médio da água do mar poder subir 20 centímetros num futuro próximo, seja próxima da indiferença e da incredulidade mas, em contrapartida, quando confrontados com um aumento de combustíveis de… 20 cêntimos, ela atinja níveis de desespero e de raiva. Embora os números tenham dois algarismos iguais, a verdade é que cada um nos convoca para realidades distintas: uma longínqua, outra mais imediata. O que não deixa de ser curioso é que o número que pode ter efeitos mais nefastos no nosso futuro coletivo acaba por ser aquele que, no presente, menos nos inquieta. E é esse um dos grandes dramas do combate às alterações climáticas: demonstrar às pessoas como as soluções para o futuro são muito mais importantes do que os pequenos problemas do presente.
Há uma lição que podíamos e devíamos ter aprendido nos últimos tempos: a da nossa fragilidade face ao que nos rodeia. A pandemia demonstrou-nos como a Natureza tem o poder de, num instante, gerar uma ameaça global, para a qual não temos defesas imediatas. Mais: foi a prova de que os riscos, há muito identificados pelos cientistas, só podem ser combatidos com uma resposta concertada e global.