Hoje é possível assistir a um espetáculo equestre em Lipica, a uma hora de caminho da capital eslovena, onde o Lipizzan, o cavalo branco que orgulhava o império Austro-Húngaro, exibe as mais deslumbrantes proezas numa autêntica viagem no tempo. E há até quem diga que nesse tempo do império, os grandes senhores falavam alemão, os empregados falavam serbo-croata e os cavalos falavam esloveno.
Para contar esta história temos que voltar atrás no tempo alguns séculos e lembrar que a História da Eslovénia, comum a muitos países do centro da Europa, é feita de longas ocupações e até restrições ao uso da própria Língua ou à exposição da própria Cultura. No século XIV a maior parte do território que hoje constitui a Eslovénia foi tomado pela Casa de Habsburgo, com a qual o Reino de Portugal teve importantes relações. E esteve sob a sua alsada até ao fim da primeira guerra mundial, pelo que esta ligação com Viena sempre foi muito importante. E, aliás, ainda hoje mostra ocasionalmente a sua presença. Um exemplo é o feriado nacional do dia da reformação (dan reformacije) que se celebrou no passado 31 de Outubro, sendo tradicionalmente celebrado na religião Protestante Cristã, e adotado em várias regiões alemãs, na Áustria e na Suíça. Hé muito para falar sobre a Eslovénia no contexto dos seus vizinhos (em particular a Áustria e a Itália), mas fica para outra oportunidade.
O cavalo Lipizzan (ou Lipicanec em esloveno, originário de Lipica no sul da Eslovénia) surgiu no século XVIII de um cruzamento de cavalos mestiços de napolitanos, cavalos árabes e 5 garanhões andaluzes selecionados e importados de Espanha. Esta fórmula perfeita deu origem a uma raça que demonstra a “haute école” de movimentos do adestramento clássico (ler mais no artigo em Português da wikipedia), e foi popularizado pela Casa de Habsburgo no século XVIII. Diz-se que a escola espanhola de equitação de Viena, fundada em 1729, é uma homenagem ao garanhões andaluzes formadores desta raça, e que escolheu a localização da região eslovena de Karst por ter condições de solo e clima ideais, semelhantes às do sul de Espanha. E confirmamos que se parece bastante com o nosso Alentejo, até um pouco na paisagem e maneira de ser dos locais. A proximidade com a Itália ajuda a essa sensação familiar. Há qualquer coisa portuguesa na mistura entre tons eslavos e latinos, até no som da língua.
O edifício atual da escola foi inaugurado em 1735 pelo imperador Carlos VI. Hoje pode-se assistir aos espetáculos equestres que eram reservados a pessoas próximas da corte austro-húngara. Com a queda do império, em 1918, a escola passou a levar a cabo performances regulares para o público em geral, e que também seguem em digressões mundiais. É uma viagem no tempo visitar estes estábulos, e ver os cavalos brancos soltos pelos campos deste espaço que é hoje uma das maiores atrações turísticas eslovenas. Na altura, estes animais que foram o orgulho do império, eram tratados com farinha de rosca integral importada da Escócia. Hoje devem ter uma dieta mais moderada, dadas as restrições económicas que se vieram sentir também aqui na Eslovénia. A relação entre os eslovenos e os cavalos é conhecida e por vezes encontramos quem se tenha mudado para fora da cidade para poder ter cavalos. Em 2015, a equitação clássica e esta escola espanhola de equitação de Viena foram designadas pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Fica o convite à sua visita.