Habitamos um mundo em que um carro é mais importante que uma caneta. Não saber usar um carro é perigoso, mas não saber usar uma caneta é catastrófico.
Na praia, os fatos de banho são frequentemente substituídos por fatos de banha.
A canícula e a exposição desprotegida da cabeça ao sol esturricam a capacidade de raciocínio. Quando a bandeira está vermelha, pensa-se pior.
A Capuchinho Vermelho devia ser muito cegueta para confundir a Avó com um Lobo – mesmo que a Avó tivesse um grande buço continua a haver o problema das orelhas e do focinho. Precisava claramente de óculos.
No Verão, a região mais colorida de Portugal chama-se libido.
Todas as vidas – tanto as saudáveis como as viciosas – acabam de forma dramática.
Para além do gelado, as batatas fritas são a parte mais comestível da praia
O fim de tarde no Verão é uma experiência táctil.
Como o tempo de leitura médio de más notícias durante o Verão é de 3,7 segundos, os jornais sérios podiam mandar tudo para férias e publicar apenas títulos dramáticos seguidos de texto “lorem ipsum”.
Os cães ladram mas as caravanas têm matrícula alemã.
Uma mesa vazia, com as cadeiras de costas inclinadas contra a mesa para ninguém se sentar, é uma imagem rude e antipática. Uma cadeira de esplanada com cócó de passarinho também.
Quem esteja apostado em analisar criticamente a essência do Verão, acaba sempre no azul esverdeado do mar.
Em termos de perigosidade, quando comparado com o culto do olhar e do sorriso, o culto do corpo é para meninos.
Portugal está na ponta da Europa ou na cauda da Europa? Portugal está na Europa? Mas não éramos o país mais europeu de África?
No Algarve é difícil tomar café de manhã porque os estrangeiros que trabalham nos cafés estão em modo “vendemos bebidas alcoólicas” a partir das oito e trinta da manhã.
Gostava de conversar um bocadinho com quem olhou para uvas e disse “acho que vou fazer vinho!” e quem olhou para as azeitonas e disse “acho que vou fazer azeite!”.
Gostava também de conversar um bocadinho com quem se lembrou de trazer à língua portuguesa a expressão de gratidão contida num “muito obrigado”. A gratidão é o expoente mais alto do reconhecimento de que a vida é um bem precioso. Um “muito obrigado” sentido constrói chão e escancara janelas.
Muito obrigado.
Dias sem ir a Portugal – zero, estou cá.
Nas notícias por aqui – muitos títulos dramáticos e vontade de ler os seus textos muito próxima do zero absoluto