Rapaziada solteira, divorciada, separada ou a caminho do limbo de uma mudança de casa por não aguentarem mais um casamento morto ou por terem levado com uma guia de marcha após a descoberta de uma traição, está na hora de mudar o chip. Aproveitem este verão atípico e quase bipolar, a mudança da lua, a ameaça das alterações climáticas no planeta, a greve dos motoristas de matérias perigosas, inspirem-se naquilo que mais alento vos der, mas façam uma inflexão na vossa vida, corrijam a rota e alterem o vosso modus operandi para voltarem a namorar. Isso mesmo. Como se fazia antigamente, como sempre se fez na história do mundo, na história da poesia, da literatura e do cinema, que são todas afinal reflexo da história da condição humana. Namorar, como fez o Charlot com a vendedora de violetas, o Ribeirinho com a Tatão, Tristão com Isolda, Dante com Beatriz, Pedro com Inês, João com Maria.
Namorem com cuidado, com dedicação, com alegria e convicção. E se já não sabem como se faz, revejam cenas da Disney ou da Pixar alusivas ao tema só para refrescarem a memória. Vão ver como é simples. Não é preciso chuparem fios de esparguete até apanharem o mesmo como em “A Dama e o Vagabundo” nem matarem os mais variados dragões para resgatarem a princesa encarcerada na torre, é só mesmo para apanharem o conceito. Até podem fazer uso das aplicações da moda para lá chegar, já que o Tinder e afins estão tão em voga. Conheço casais terrivelmente felizes que se encontraram graças a esse Cupido da nova era. Alguns já casaram, procriaram e continuam lindamente. É certo que, perante as especificidades da supracitada aplicação, talvez o objetivo primeiro não seja o de construir uma relação séria, ou nem sequer nenhum tipo de relação para lá de ter relações sexuais fortuitas com alguém de quem se gostou da pinta nas fotografias exibidas. Nós, mulheres, percebemos a questão da solidão, a necessidade de diversão, o desejo à flor da pele, porque também passamos pelo mesmo. Também temos carne e nervos, não somos só sonhos e coração. Mas a grande questão é que o sexo pelo sexo não nos interessa para nada, ou quase nada. Nós gostamos, precisamos e merecemos namorar. Basta de andar aos encontrões, de desparecer ou se tornar vago depois do primeiro encontro, da mesma conversa da tanga de sempre com os clássicos e gastos chavões, não estou preparado para uma relação, é tão bom não foi, não és tu, sou eu, neste momento estou com muitas responsabilidades e não consigo manter uma relação, etc.
Basta de tanta palhaçada.
Não existe nenhuma diferença entre uma razão e uma desculpa, como ouvi uma vez num diálogo de um filme de traficantes. Aquilo nunca mais me saiu da cabeça. Está na hora das mulheres criarem um movimento a nível mundial, qual segunda onda sufragista, em defesa da restauração do namoro. A Guerra da Restauração em Portugal demorou quase 30 anos, mas ganhámos aos espanhóis, portanto nada nos impede de vencer outra vez.
Estamos todas fartas de tipos indecisos, ambíguos, dúbios e vagos que se divertem no esquema das apostas múltiplas, debicando aqui e ali como galinhas na capoeira. Não queremos homens- galinhas, queremos homens a sério. E acreditem que, tal como vocês não se sentem confortáveis ao saber que a vossa atual qualquer coisa já rodou por muitos outros braços, nós também não levamos a sério um sedutor profissional que já varreu tudo sem critério.
Está na hora de mudar o mundo por dentro e por fora. De reciclar o lixo e de deixar de usar plástico. De incentivar todos os bares e restaurantes a banir as palhinhas. De plantar árvores e de construir pequenas hortas. De partilhar carros e de adotar bicicletas. Está na hora de sermos todos mais amigos do ambiente, dos animais e dos vizinhos. Chega de tanto egoísmo e de hedonismo estéril e sem margem útil. Chega de tanto despedicio.
Namorar é bom. É bom oferecer flores, é bom ir ao cinema aos domingos à noite, é bom comprar cartões infantilóides com balões ou com ursos e escrever coisas pirosas, é bom passear de mão dada junto ao rio, é bom andar aos amassos no elevador, é bom dar beijos no carro e abraços debaixo de uma árvore, é bom dançar em casa depois de um jantar à luz das velas. Já dizia o Nietzsche, só acredito num Deus que saiba dançar. Namorar faz bem à saúde; liberta dopamina que é a hormona do bem-estar e oxitocina que é a hormona das relações vitalicias, e cria momentos que serão guardados no futuro como preciosidades dos património afetivo de cada um. Episódios que vão deliciar os nossos filhos e enteados, pérolas inesquecíveis na nossa existência, tantas vezes tão enfadonha e previsível.
Mulheres de Portugal e do mundo, uni-vos neste hashtag #EUSONAMORO e ponham a rapaziada na linha, acertem-lhes o passo. Caso eles não estejam interessados, batam com a porta na cara e fechem o coração. Quando um coração se fecha, faz muito mais barulho do que uma porta. Sejam fortes e contrariem a tendência vigente de casos inconsequentes, aventuras fugazes e sexo fácil e gratuito. Para o fácil, existem as profissionais do ramo. Para o gratuito, existem os sites pornográficos. E para as aventuras fugazes, só vai a jogo quem quer.
A única maneira de ganhar é não jogar. Cortem as vazas aos players profissionais. Concentrem-se e treinem a palavra NÃO. Assim NÃO quero, assim NÃO me interessa, ainda NÃO. Eu sei que nem sempre é fácil, mas mais vale uma travessia pelo deserto até aparecer um homem de coração limpo que vai querer o nosso bem do que andar a saltar de miragem em miragem, acreditando que chegámos ao oásis. É tudo uma questão de foco e de bom senso.
E depois é confiar na sorte, porque um dia ela bate mesmo à porta. Mesmo. Pode demorar semanas ou anos, mas bate. Não há mal que sempre dure e o mundo é feito de mudança. Mudemos então para melhor, antes que o planeta sufoque de tanto lixo.