“Deus criou os economistas para os meteorologistas parecerem mais competentes.” O velho dichote usado quando as previsões económicas mudam ou falham veio-me à memória nas últimas semanas. No primeiro dia do ano, Kristalina Georgieva, diretora do FMI, anunciou que “esperava que um terço da economia mundial estivesse em recessão”, prevendo que “metade da União Europeia entrasse em recessão em 2023”. Agora, um mês volvido, parece consensual que o pessimismo das notícias sobre a morte do crescimento económico em 2023 eram manifestamente exageradas. “Prefiro ser vago e correto do que preciso e errado”, já dizia um cauteloso Keynes.
O tom em Davos, há duas semanas, foi já de otimismo indisfarçável, e Georgieva já sinalizava uma melhoria. Na reunião do Fórum Económico Mundial, Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, participou num painel em que se falou de “muitas esperanças” para a economia europeia e de um crescimento reconfortante” para Portugal. Houve uma mudança clara de perceção desde novembro, ditada pela saída de números em relação a 2022 que trouxeram novas boas surpresas trimestrais. Afinal, contra todas as expectativas, as economias europeias resistiram, melhor do que seria de esperar, ao impacto da guerra da Ucrânia, às restrições energéticas e a um cenário de alta inflação e de subida de taxas de juro – a maior escalada em meio século.