Jair Bolsonaro e os seus apoiantes seguiram o guião de Donald Trump e dos seus discípulos até ao fim. Primeiro, recusaram aceitar o resultado das eleições. Depois, indiferentes às consequências que teve a invasão do Capitólio, em Washington, dois anos antes, organizaram-se para tentarem o seu remake: em turba e sem outro plano que não fosse o de copiar, nas sedes do poder em Brasília, os mesmos atos de destruição e de vandalismo que tinham ocorrido na capital dos EUA. Em ambos os casos, com a complacência e até alguma colaboração das forças de segurança.A repetição do mesmo guião ‒ ainda por cima já depois de consumada a posse de Lula da Silva como Presidente do Brasil ‒ pode parecer despropositada ou até como um ato de estupidez absoluta, uma vez que não havia qualquer sessão para interromper nos três palácios de Brasília (Presidencial, Supremo Tribunal de Justiça e Congresso). Mas a invasão só pode ser vista como surpreendente para quem persiste na recusa de encarar de frente o perigo dos novos populismos. Para quem desvaloriza e tantas vezes até pactua com os movimentos extremistas que crescem e proliferam com base na propagação de mentiras, da negação da Ciência e da realidade, sempre em confronto com as instituições e todos os pilares das sociedades democráticas. Quando os invasores do Palácio do Planalto têm como reivindicação principal a tomada de poder pelos militares, clamando pelo regresso da ditadura, para, dessa forma, tentar impedir que seja concretizada a vontade do povo expressa nas urnas, ninguém pode ter dúvidas sobre o programa político que defendem. O que eles pretendem é, simplesmente, a destruição da democracia e, com isso, poderem manter o poder, a qualquer preço e sem controlo.
O mais preocupante é que, ao longo dos últimos anos, temos visto estes movimentos crescerem e desenvolverem-se. Apesar do conforto com as derrotas eleitorais de Trump e Bolsonaro, a verdade é que as democracias estão em regressão no mundo. E isso acontece até mesmo nalguns países onde a dávamos como uma certeza adquirida, com base no princípio, agora ilusório, de que quem a experimentava já não aceitava regredir para a autocracia (aquilo a que se vai assistindo na Hungria, sob Viktor Orbán, no seio da União Europeia, não é, de facto, nada animador).