Grande parte da história recente de Portugal está escondida nas muitas páginas esquecidas do Diário da República, entre os decretos, despachos, portarias, avisos e anúncios que diariamente vão sendo publicados e que ficam disponíveis para memória futura – alguns deles capazes de intrigar os historiadores, daqui a uns séculos. Será esse o caso, com certeza, do longo folhetim do chamado Novo Aeroporto de Lisboa, que há mais de meio século vai sendo objeto de referências na publicação oficial da República Portuguesa, mas sempre sem qualquer concretização prática.
Esta história é já tão antiga que até se inicia quando o Diário da República ainda se chamava Diário do Governo. E o “primeiro episódio” foi a 8 de março de 1969, com a publicação do decreto-lei nº 48902 que criou, no Ministério das Comunicações, o Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa, com a finalidade, entre outras, de “promover a elaboração de todos os estudos necessários à realização da obra ou com ela relacionados”. A decisão era justificada por dois fatores: responder à “evolução do tráfego aéreo” e a certeza de que optar pela ampliação do aeroporto da Portela para acolher mais passageiros exigiria um “investimento de 600 mil contos” (três milhões de euros atuais), que “embora pudesse ser amortizado a curto prazo, se tornaria insuficiente dentro de pouco tempo”. O importante, sublinhava o texto, era “enfrentar o problema rapidamente, tanto mais que o País não pode perder a posição privilegiada que tem quanto às comunicações aéreas”.