Depois do choque vem a dormência, é sempre assim. E ela já começou a instalar-se. Cinco meses depois da infame invasão russa à Ucrânia, que ditou o início da guerra na Europa, novos assuntos começam a dominar as agendas noticiosas e as preocupações das pessoas. É humano, dir-se-á: outras crises – inflação, energia, seca, incêndios – começam a bater à porta, e a fazer-se sentir de imediato na pele e na carteira.
Mais tarde ou mais cedo, começará a dar-se a normalização da guerra e das imagens de violência e, com ela, a normalização da violação dos princípios de direito internacional e dos valores democráticos com os quais nos identificamos. Um estudo do Parlamento Europeu divulgado recentemente mostrou que cerca de 59% concordaram que a defesa de valores comuns europeus como liberdade e democracia deve ser uma prioridade, mesmo que isso afete os preços e o custo de vida. Apenas 39% disseram o contrário. Mas este estudo mostra que o apoio foi mais inequívoco entre os europeus mais folgados economicamente, e caiu para menos de metade entre os mais pobres, que regular ou ocasionalmente têm dificuldade em pagar as contas.