Vivemos tempos imprevisíveis. De um momento para o outro, a incerteza parece ter tomado conta do mundo, e ninguém consegue arriscar, com um mínimo de segurança, o que vai suceder com o Brexit britânico, o shutdown norte-americano, o terramoto político, que pode ocorrer nas próximas eleições europeias, ou até onde irá escalar a guerra comercial entre os EUA e a China. É neste contexto que faz todo o sentido recordar uma frase célebre do recentemente falecido William Goldman, um dos maiores argumentistas do cinema norte-americano, que ficou lendário por, muitas vezes de forma anónima (mas paga a peso de ouro…), usar o seu “toque de Midas” para transformar um iminente “flop” num saudado “blockbuster”, graças a meia dúzia de mudanças introduzidas no guião original. A verdade é que quando decidiu explicar, nas suas memórias, o segredo do seu êxito e a fonte do seu conhecimento sobre o comportamento dos espectadores, Goldman foi absolutamente desconcertante: “Nobody knows anything” (Ninguém sabe nada). E justificou porquê: “Não há ninguém, no mundo do cinema, que tenha a certeza do que vai ou não resultar. É sempre um palpite.”
Numa indústria que gosta de se rodear de uma floresta de consultores e de analistas de opinião, para tentar perceber o interesse e os gostos do público, a sinceridade de Goldman foi certeira – e ficou colada à História e ao espírito de Hollywood, onde, todos os anos, mesmo agora na era do streaming e da medição automática do comportamento dos espectadores, continuam a multiplicar-se os fracassos comerciais e os êxitos inesperados, sem que alguém consiga descortinar a explicação científica para um ou para outro.
Este reconhecimento do “ninguém sabe nada” começa, agora, a saltar para a política e para a economia, mas sem a mesma elegância de Goldman, e é responsável, um pouco por todo o lado, pela adoção de ações e de medidas muito mais reativas aos acontecimentos, em detrimento do planeamento e da estratégia a longo prazo. Quando olhamos para o que se passa no mundo, o que se vê são quase unicamente propostas de curto prazo, pequenos remédios para curar os sintomas visíveis de doenças com causas muito profundas, e em que, ainda por cima, os discursos populistas, com as suas soluções simples, imediatas e radicais, ganham terreno e apoio popular.
Entre os investidores mundiais, como foi agora sublinhado pelo economista Anatole Kaletsky, a tendência é a mesma: passaram a portar-se de uma forma muito mais reativa do que preventiva, conforme se tem visto pela “montanha-russa” nas bolsas, bem como pelo recrudescimento dos sinais de alarme e dos avisos de nuvens negras sobre a economia mundial. As previsões económicas estão a ser revistas por baixo, e, pouco a pouco, começa tudo a gritar que a catástrofe financeira vem aí outra vez, sem que alguém pare para pensar um bocadinho e refletir nas soluções que devem ser postas em prática, para se alcançar objetivos num horizonte mais vasto e menos imediato… e sem que se possa emendar os erros que se repetem de crise para crise.
O drama é que, depois do desaparecimento quase completo da discussão ideológica, já não são as ideias ou as propostas de longo prazo que ganham eleições. O que tem mobilizado os eleitores por esse mundo fora é, isso sim, a promessa de resolução de problemas imediatos ou, noutro campo, a necessidade, com um repúdio quase visceral, de penalizar quem ocupou o poder.
Com isto, inevitavelmente, o debate público e político tem ficado cada vez mais pobre e dividido. E, na verdade, apenas se vai adiando a resolução dos mais importantes problemas, aqueles por que, no futuro, os atuais líderes serão julgados pelas gerações que lhes sucederem. As vistas curtas podem ganhar eleições, mas estas sairão caras. E, com a velocidade a que tudo agora ocorre, isso sucederá mais depressa do que pensávamos. É só um palpite…