Imagine uma caixa transparente com um pequeno buraco. Dentro da caixa está um pombo. Fora da caixa está o mundo. O pombo olha para o mundo, mas não pode sair da caixa. No entanto, não é isso que o incomoda. Através da caixa, o pombo pode ver outra, que está ligada à sua por um tubo. O que está dentro da outra caixa é o que alimenta o pombo. Se receber comida todos os dias à mesma hora, o pombo nem pensa nisso. Se o alimento deixar de chegar pelo tubo, o pombo desiste de esperar. Então o que acontece se o pombo nunca souber quando vai ter comida porque não existe um padrão, uma regra, nada que lhe indique quando de facto isso vai acontecer?
A isto chama-se Reforço Intermitente. Pombos, ratos e outros animais sujeitos a esta experiência enlouqueceram de ansiedade. Alguns morreram de exaustão, enquanto corriam em busca de uma recompensa sem hora marcada. O Reforço Intermitente, praticado de forma mais ou menos consciente ou inconsciente, pode dar cabo de uma pessoa, porque a imprevisibilidade gera ansiedade que gera insegurança que gera medo que gera mais insegurança que gera mais ansiedade e por aí fora. Para quem vive numa situação de Reforço Intermitente, o dia a dia pode transformar-se numa montanha russa na qual nunca sabemos se vamos subir a pique, descer vertiginosamente, fazer três loops seguidos, mergulhar num lago gelado ou passar no meio de seis arcos em chamas. O Reforço Intermitente é aquilo que faz com que o ser humano se vicie no jogo apostando dinheiro que não tem, que nos leva a abrir o Facebook ou o Instagram ver quantos likes temos, que nos deixa no limbo à espera de uma mensagem, de uma resposta, de um sinal por parte de alguém que comunica de forma errática e imprevisível, alguém que liga e desliga sem pré-aviso, para quem às segundas, quartas e sextas somos o centro de todos os seus sentidos, e às terças, quintas e sábados age como se não existíssemos.
O ser humano é insatisfeito por natureza. Queremos aquilo que não temos. Aquilo que nunca tivemos, ou que sabemos que não vamos ter, é rapidamente esquecido. Aquilo que já temos, tomamos por garantido. É precisamente aquilo que nunca sabemos se temos ou não que faz disparar a adrenalina e o cortisol. Se pensarmos que cada ser humano tem em média de dez triliões de células para gerir, que as células são organismos dotados de inteligência e de memória, é fácil perceber como uma situação de Reforço Intermitente pode ensombrar a existência e retirar-nos energia, otimismo e alegria.
O Reforço Intermitente pode colocar o ser humano mais sensato e racional numa armadilha emocional da qual se sente refém, e não é caso para menos. É como se o coração vivesse numa prisão de insegurança máxima, ninguém consegue adivinhar quando chega o momento de dar a volta à fechadura, abrir as portas da prisão interior e alcançar de novo a liberdade. E se é verdade que não escolhemos nem com quem se cruza no nosso caminho, nem por quem nos apaixonamos, também é verdade que somos dotados de liberdade de escolha. Podemos decidir o que queremos em nome do nosso bem-estar e da nossa paz interior.
Um dos fatores que leva um homem a lidar com mais facilidade com este tipo de relações do que a mulher tem a ver com a sua natureza: o homem é sexualmente descontínuo, enquanto a mulher é continuamente erótica. Um homem ou está com a cabeça cheia de sexo, ou nem sequer pensa nisso. E só pensa continuamente em sexo se estiver sob o estado da paixão. Ora a paixão passa, dilui-se, esmorece, vai sendo apagada pela realidade, pelo tempo, pela distância. Ninguém tem saúde nem tempo para se manter apaixonado durante muito tempo, a vida não deixa. É como passar muito tempo na rebentação, é preciso regressar a terra antes de morrer na praia.
A grande questão não está em tentar perceber o que faz com que o outro, outrora presente e dedicado, se torna omisso, errático e imprevisível, mas se queremos ou não aceitar que quem já nos quis dar o mundo, nos alimenta com migalhas sem data nem hora, sem segurança, sem estabilidade, sem a possibilidade de construir nada em comum. A grande questão não reside no outro e no seu comportamento, mas em nós e na capacidade de fazer escolhas. O pleno acontece poucas vezes na vida, portanto cada um pode e deve escolher se prefere ficar quieto, avançar sozinho, atravessar o deserto com camelos e correr em direção a uma miragem, descansar no oásis ou deixar que o tempo e a vida resolvam o que a vontade e o coração não conseguem.
Tudo se resolve e geralmente quando um problema parece não ter solução, a última é quase sempre a melhor. Ou quase sempre. Estar quieto também é uma ação, muitas vezes, a mais sábia.