“Só tenho pena de não saber cantar como a Shakira para, agora, fazer uma música também”, disse Filipa, mulher do DJ Rúben da Cruz, ao descobrir que este a traiu. Quem me dera que todas as mulheres fossem Shakiras, e todos os homens Franks Sinatras, porque dada a quantidade de gente infiel, o mundo transformar-se-ia num gigantesco musical da Broadway. Se o único nome que reconheceu no último parágrafo foi “Frank Sinatra” é bom sinal, mas acredito que Shakira (cantora de Barranquilla que aprecia barracada) e Gerard Piqué Bernabéu (jogador que apesar do apelido sempre foi do Barça, deixando antever que era um troca-tintas) façam escola e marquem uma nova era nos divórcios. Shakira descobriu que o marido a enganava e escarrapachou os detalhes numa canção. Se compararmos isto com as histórias do Correio da Manhã, em que o traído saca de uma caçadeira, sacar de um microfone nem é mau. Ambas as soluções fazem barulho, deixam roupa suja e soam-nos desnecessárias, mas acredito que Piqué prefira ficar magoado por ouvir “muito ginásio, trabalha um pouco o cérebro também” do que aleijado porque levou um tiro no joelho. Filipa foi a primeira portuguesa a importar esta tendência e, na impossibilidade de cantar, foi pela via da representação. Fez-se passar pelo namorado, Rúben da Cruz, e, usando o telemóvel deste, trocou mensagens com a suposta amante, até poder, com elevado grau de certeza, deixar cair o “suposta”. Não satisfeita, partilhou as conversas no Instagram do cônjuge. Pior do que ter, voluntariamente, um Facebook de casal, só ter, à força, um Instagram de ex-casal. Já tinha ouvido falar em assassinatos de carácter, mas encenação de suicídio de carácter é a primeira vez. Parabéns pela originalidade.
Parece-me, no entanto, que Filipa combate uma imoralidade com um crime: enganar a legítima esposa é feio mas não ilegal, fazer-se passar pelo marido e usurpar-lhe as redes sociais é giro mas ilegítimo. Deixemos, porém, essa discussão para juristas, e foquemo-nos no essencial: a prova de que as mulheres são muito mais criativas do que os homens. O pouco trabalho que os homens têm a esconder os seus casos extraconjugais é inversamente proporcional ao trabalho a que as mulheres se dão para expor os casos deles. Levar a amante para casa e deixá-la comer a geleia da mulher? A sério, Piqué? Desaparecer durante horas e deixar o telemóvel com a namorada, Rúben? São homens que aparentemente convivem com muitas mulheres, mas ainda não perceberam como elas são. Estamos em 2023, a desculpa “querida, vou ficar a trabalhar até tarde” já não cola. Na verdade, nunca colou, mas em 1960 as mulheres até preferiam que eles ficassem a “trabalhar” e não lhes moessem o juízo, já que o divórcio não era bem opção. Sei que a maioria das pessoas é crítica destas peixeiradas, mas acho da mais elementar justiça que quem exibe os seus casamentos, e promete “na saúde e na doença, até que a morte nos separe”, nos deixe assistir ao momento em que percebem que afinal exageraram. Não era só a morte. Bastava uma Sónia ou uma Clara.
Shakira e Piqué, versão portuguesa. Crónica de Joana Marques

Acho da mais elementar justiça que quem exibe os seus casamentos, e promete “na saúde e na doença, até que a morte nos separe”, nos deixe assistir ao momento em que percebem que afinal exageraram