“Sabes que começou no A”, cantava Ana Malhoa na SIC, nos meus tempos de escola. A apresentadora tentava ensinar-nos português, embora o título do programa nos induzisse em erro, já que Buereré não vinha (nem vem) no dicionário. Também no A começou a mais recente controvérsia na comunidade académica. Mais precisamente no ABCLGBTQIA+, campanha de sensibilização da ILGA que levou Paulo Lopes, professor da Universidade de Aveiro, a sair do armário, para se assumir como orgulhoso homofóbico.
Confesso que nem sou a maior fã desta campanha que, segundo os seus autores, “disponibiliza a todes o significado de 37 palavras”. Só não disponibiliza, até ver, o significado de “todes”. Mas num dos cartazes pode ler-se que “em Portugal há dois sistemas não oficiais de pronomes neutros: elu ou ile.” Ora, como pessoa que ainda está a chorar os cês mudos que o acordo ortográfico nos roubou, fico com uma certa urticária só de imaginar os meus filhos a aprender a frase “elu tem uma coleção de carrxs lindes e vamos todes lá a casa ver”. Chamem-me antiquada, ou antiquade, mas creio que isto pode confundir os estudantes mais novos e deitar por terra o trabalho árduo, de tantos anos, da stôra Ana Malhoa. Agora, se me disserem que esta campanha serve para detectar gente como o pedagogo Paulo Lopes, sinto que já cumpriu o seu propósito.