Rita Matias, deputada recém-eleita pelo Chega, anda nas bocas do mundo, nomeadamente por ter ido buscar bocas ao resto do mundo. Agora que se tornou conhecida de todos os portugueses (e não apenas dos “portugueses de bem”), Rita foi apanhada a fazer o que qualquer jovem de 22 anos faz, quando tem um trabalho para apresentar e foi sair à noite na véspera: copy&paste. A oral foi no III Congresso do Chega, em Coimbra, e algumas passagens parecem decalcadas de um discurso de Giorgia Meloni, do Fratelli d’Itália.
Apanhada a copiar, Rita fez o que qualquer bom cábula faria: negar tudo! Considerou mesmo “ridículo e lamentável que se esteja a fazer este juízo de valor”, técnica de vitimização que eu tentei com o meu professor de Geografia, no 9º ano, sem efeito. Tive de ouvir um sermão subordinado ao tema “o crime não compensa”. Rita Matias é, porém, a prova viva de que copiar na prova pode funcionar. Ei-la, na casa da democracia, demonstrando que o futuro também pode sorrir aos maus alunos (já chega de usarmos sempre o exemplo do Einstein).
“Fazia falta de haver mais vozes femininas com espaço público”, disse Rita Matias, em entrevista. “Fazia falta de haver” gente no Parlamento que saiba falar português, acrescento eu. Acredito que alguns eleitores do Chega se sintam enganados. É como se tivessem encomendado online um eloquente André Ventura e tivessem recebido uma versão contrafeita (por ciganos, mesmo para enervar), que só diz três frases. Pode é dizer em português e em italiano, como uma boneca de Frozen, do meu filho, que canta “já passou!” em várias línguas.
Se fosse uma Elsa do Bloco, gritaria “não passarão!” e teria o mesmo efeito do que os berros de Catarina Martins: nenhum, a não ser dor de cabeça por estar a ouvir aquela lengalenga. Eles aí estão, já passaram, e, mais do que atropelos aos direitos humanos, prevejo que passem a ferro a língua portuguesa, o que, não sendo tão grave, também aleija.
Ser deputado sem ter o dom da palavra é como querer vencer os Ídolos sem ter voz. Em princípio, entra-se só naquele segmento dos “cromos”. Se calhar é ingenuidade minha, mas tinha a expectativa de que todos os parlamentares discursassem fluentemente. Expectativa, essa, que foi defraudada pela primeira vez, em 2019, quando Joacine fez a sua primeira intervenção na Assembleia da República. Está visto que nem nas dificuldades de expressão o Chega é original. Tanto num caso como noutro, quer esteja em causa a restituição do património às ex-colónias ou a restituição da mulher ao lar, eu queria perceber o que estão a dizer, para poder, então, discordar. É que até para mandar sujeitos para a terra deles, por causa dos seus predicados, seria útil ter o sujeito e o predicado no sítio certo.
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