A vantagem de um guia para quem não percebe o Orçamento costuma ser, como o próprio nome indica, guiar quem não percebe o Orçamento. Quando o autor do guia também não percebe, os benefícios talvez sejam menores. Não é o caso, aqui. O primeiro ensinamento deste guia para quem não percebe o Orçamento é o seguinte: ninguém percebe o Orçamento. De acordo com várias opiniões, nem mesmo quem elaborou o Orçamento percebe o Orçamento. A razão, ao que pude apurar, é simples: o objectivo do Orçamento não é exactamente ser percebido, mas transmitir emoções – no que se assemelha, digamos, a um poema. E é por isso que, embora seja feito de números, consegue ser interpretado de várias maneiras diferentes. Talvez seja prudente, por isso, converter o Orçamento para poesia, e depois proceder à sua interpretação. As verbas serão, para nós, verbos. Há verbas atribuídas a determinadas áreas, mas é fundamental perceber em que tempo estão conjugadas. Se são verbas destinadas a serem mesmo aplicadas no presente, ou se estão conjugadas no condicional, o que significa que serão alvo de cativações.
Também é necessário entender a intenção dos poetas que compuseram o Orçamento. Se pretendem transmitir alegria, anunciam os aumentos referindo a percentagem: estão acima da inflação, o que é animador. Se querem deprimir-nos, mencionam o seu valor em euros, que é meia dúzia de tostões.