Pare, e por um momento, pense nisto:
Porque quer tanto falar e estar com uma pessoa que não tem o mesmo interesse em estar consigo?
Porque insiste em provar-lhe por A mais B que tem valor e que é muito bom estar consigo?
Porque pensa que a vai salvar e quer resolver-lhe os problemas?
Porque abre mão do que mais quer, para receber tão pouco e fazer o que ele/ela quer?
Porque continua a gravitar à volta da sua vida à procura de um buraquinho pequenino onde ele/ela a/o possa ver?
Porque sente necessidade de se empequenecer para que ele/ela se sinta grandioso/a?
Porque corre atrás de quem não corre atrás de si?
Porque fica feliz de estar com uma pessoa que não está feliz ao seu lado? O que o faz acreditar que virá a sentir-se feliz?
Porque faz um esforço para convencê-la a sair consigo, se ela não faz qualquer esforço? Acredita que tem de a convencer?
Porque raio escolhe uma pessoa que não a/o quer?
Porque permanece na “zona cinzenta”?
Pensar que uma pessoa de quem gostamos não gosta de nós como nós gostamos dela, talvez seja uma das coisas mais difíceis de aceitar.
Sabe porquê?
Porque todos nascemos com o desejo de sermos aceites e amados, especialmente pelas pessoas que amamos, e quando não acontece assim, podemos sentir rejeição e isso afetar a nossa autoestima e autoconfiança. Para protegê-las, fazemos de tudo! Até convencer o outro a gostar de nós!
Mas esse não é o único motivo. Existem mais! Todos nós, ainda que inconscientemente, sabemos que uma relação amorosa é uma das principais fontes de felicidade. Por isso fazemos tudo para a ter e para a manter. Até obrigar o outro a estar connosco!
Mas não só! Muito para além disso, a enorme dificuldade em aceitá-lo prende-se também com o facto de ser muito difícil compreender porque uma pessoa a quem queremos dar todo o nosso amor, não gosta de nós e não quer estar connosco. E o que fazemos? Tentamos de todas as formas e feitios impingir-lhe esse amor!
A maioria das pessoas tende a resistir estoicamente à realidade, a pensar e a aceitar o impensável e o inaceitável.
Talvez a rejeição por parte de outro do amor que temos para lhe dar e a constatação da nossa impotência no que respeita a fazê-lo ver e valorizar esse amor, seja mesmo uma das maiores dores emocionais que o ser humano possa sentir.
Estes são apenas algumas das afirmações que registei:
“Ainda não me conhece e tenho de fazer algo… porque quando me conhecer tudo vai mudar. Talvez uma viagem…”
“Gosta de mim, a ‘bagagem’ não lhe permite avançar, mas eu vou esperar que passe…o Amor que sinto é tão grande!”
“É tímido e não consegue expressar o que sente…”
“Não tem tempo, porque não consegue…tem muita ambição e isso é bom, não é?”
“Diz que não quer nada sério, mas continua a flirtar comigo, então é porque quer!”
“Fazemos amor todas as semanas, mas diz que agora não se compromete, mas quem sabe depois…”
“Aparece e desaparece, responde, não responde, mas diz que me admira muito e sou muito importante na vida dele e andamos nisto há anos…”
“Diz que não assume porque a ex é louca e se souber estraga-lhe a vida”
“Depois de 6 meses diz que precisa conhecer-me melhor para pensar em namorar”.
“Revela que prefere dormir sozinho, e pede-me para ir para casa a meio da noite…”
“Só me procura quando tem interesse!”
Pergunto de novo: Porque permanece na Zona Cinzenta e permite que o tratem como descartável?
Permanecer na Zona Cinzenta de uma relação significa aceitar não saber o que vai acontecer daqui a cinco segundos na sua vida, sentar-se no “banco dos suplentes” e ficar nas mãos do “treinador/a” que terá o poder de decidir quando lhe apetece vê-lo jogar.
Se fosse um jogo da bola, não teria tanta gravidade nem consequências, mas este é o jogo da sua vida e as sequelas podem não se fazer esperar.
Ficar à espera que o treinador/a lhe apeteça, não é solução! Solução é perceber quais as razões porque insiste em estar com uma pessoa que não tem grande interesse, para não dizer nenhum interesse, em estar consigo.
E a resposta que eu lhe deixo aqui para o ajudar a desvendar este mistério, é também ela uma interrogação: Será que você gosta de estar consigo?
Se sim, então porque sente necessidade em insistir para que os outros estejam?
Quando sentir que a sua companhia é realmente gratificante nunca mais vai sentir necessidade de convencer alguém disso, porque quem tiver capacidade de o reconhecer, reconhecerá e valorizará.
Não tem de provar nada a ninguém, muito menos “forçar” quem quer que seja a estar consigo. Se você não sabe o seu valor, descubra-o. Não o procure nos outros. Não fique à espera que os outros enalteçam as suas capacidades, aptidões, talentos, habilidades, dons…descubra-os, estimule-os e desenvolva-os. Quem não quiser estar consigo, ou sentir que faz “frete” em estar, é porque não tem capacidade de o ver e porque não existe motivo para estar. Aceite-o! Desapegue-se!
Também lançar “boias salva-vidas” não é a melhor estratégia para iniciar um romance, assim como vestir a bata do psiquiatra e tentar resolver todos os seus problemas psicológicos em troca da sua companhia, dedicação e do seu Amor. Não vai resultar! Por mais boa vontade que tenha, um dia vai perceber que perdeu o seu tempo, latim, paciência e que ninguém viu o seu Amor.
Se quer namorar, casar, ter filhos, uma família, porque razão vai abdicar disso? Conheceu alguém que não está nem aí, mas que ao mesmo tempo lhe diz que talvez um dia mude de ideias? Só pode estar a brincar consigo. Provavelmente quer apenas segurá-la/o e não a/o perder! Porquê? Porque a verdade é que não sabe o que quer, e é muito improvável que tão depressa venha a saber.
Não fique numa “coisa” sem saber que “coisa” é essa, especialmente quando permanecer significa esquecer os seus valores e os seus sonhos. Existem por aí tantas pessoas com projetos de vida que incluem tudo isso, porquê prescindir do que mais deseja?
E não se esqueça: relação nenhuma funciona quando uma das pessoas controla e a outra se deixa controlar com medo de ficar sozinha. Isso não é uma relação, é despotismo, muitas vezes pouco esclarecido.
Você não precisa de “gravitar” à volta da vida de um outro alguém para ter o seu Amor. Talvez seja um cliché, mas é a mais pura das verdades. Amor não se pede! Dá-se de coração! Existe ou não existe. E mais vale aceitar que não existe no início de uma relação, do que criar a ilusão de que um dia vai existir, pois esse dia pode nunca chegar e a vida passa depressa demais para ficar à espera.
Se sente essa necessidade constante de dizer: “estou aqui!”, provavelmente é porque essa pessoa não o faz sentir que está na sua vida, que é realmente importante para ela e porque os seus comportamentos e atitudes não o refletem, porque não quer, ou porque não sabe. No primeiro caso, tenderá a desculpabilizar-se, defender-se e culpabilizá-la, no segundo quererá aprender.
A par de sentir que essa pessoa não tem grande vontade de estar consigo, sente-se pequenina ao seu lado?
Sabia que o verdadeiro amor nos faz sentir grandes, não pequeninos? Que quem realmente o ama, descobre todos os motivos para falar consigo o mais tempo possível, para estar consigo, para passear consigo e para o conhecer. Quem gosta de estar ao seu lado, faz tudo para estar. Especialmente no início de uma relação, o encantamento, o entusiasmo, as brincadeiras, as loucuras, as mensagens, as noites mal-dormidas, as escapadelas, o interesse incessante pelo outro e o querer conhecer mais e mais, descobrir e ser descoberto são o dito “normal”. Não aceite nem arranje desculpas esfarrapadas.
Quando um homem gosta mesmo de uma mulher vai atrás e faz tudo para a conquistar. O mesmo se passa quando uma mulher sente admiração e gosta de um homem. Ficar à espera que quem se está nas tintas para si revele um mágico Amor, pode revelar-se uma grande desilusão.
Será possível sentir-se amado ao lado de uma pessoa que não sabe se a/o ama ou se se sente feliz ao seu lado? É óbvio que não!
O que o faz acreditar que ela o amará? Será que é o seu ego ou o seu medo?
Porque espera que ela se sinta feliz e não se faz feliz?
Pare de se esforçar para convencer quem quer que seja a gostar de si e a estar consigo, muito menos quando essa pessoa não está nem aí. Isso não resulta, nem nunca vai resultar. Quanto mais insistir menos essa pessoa conseguirá vê-lo, até se tornar transparente ou quase inexistente.
Ao invés do que é suposto, quanto mais insistir, menos quererá estar consigo. Criar-se-á uma espécie de resistência. Dê-se valor e dê valor à sua companhia. Não tenha receio de conversar, e se for o caso, de se afastar. Parece paradoxal, mas por vezes o afastamento faz com que sejamos vistos.
Escolher ficar com uma pessoa que não nos quer, nem nos ama é talvez uma das decisões mais estúpidas que se pode tomar. Por vezes, ouço dizer que não escolhemos quem amamos! Mas, também ninguém nos aponta uma arma e nos obriga a ficar com quem não nos ama, a não ser nós próprios, por puro masoquismo, obsessividade, dependência, medo da solidão, repetidas frustrações…alegando que é o amor que nos faz ficar, quando o que nos faz ficar é, em ultima instância, a falta de Amor sim, mas de Amor próprio.
São esses mesmos motivos que fazem com que muitas pessoas optem por “acampar” na Zona Cinzenta e, em muitos casos, aí permanecer, em estado de limbo, até ver, fazendo a sua autoestima, confiança e segurança andar ao sabor de ventos contrários e tempestades emocionais. Dando tudo e recebendo quase nada, na esperança de um amanhã diferente que muito provavelmente nunca chegará.
Não permita nunca que o tratem como descartável.
Você não é uma coisa, é um ser humano que merece ser respeitado, merece ter uma relação de amor, merece que sintam admiração e interesse por si, sentir que existe vontade e interesse genuíno em estar consigo, em ouvi-lo e conhecê-lo.
Tem todos estes direitos. Pensar que não o merece faz com que pessoas mais ou menos destruturadas, instáveis, emocionalmente imaturas, egocêntricas, narcisistas e manipuladoras se sintam atraídas por si e o “explorem” sob o ponto de vista afetivo, dando-lhe migalhas de afeto.
Ensine aos outros como quer ser tratado e o que quer. Não abra mão dos seus valores e convicções e muito menos em troca de um quase nada, ou de um “vamos ver, talvez um dia mude de ideias”.
Não se deixe enganar e, especialmente, não se engane a si próprio, pois neste segundo caso, por vezes, é difícil depois perdoar-se!
Quem o ama não faz o favor de estar consigo. Gosta e quer muito, sempre que possível, estar consigo! Não o trata como se ora existisse na sua vida, ora não existisse. Fá-lo sentir que tem um lugar muito especial nela e no seu coração.
E, se assim não é, procure que assim seja, porque isso existe!