Esta é uma questão extremamente frequente e para a qual surgem várias respostas. No entanto, a evidência científica é cada vez maior nesta área e actualmente existem recomendações claras das principais sociedades científicas internacionais.
Uma das grandes vantagens do leite materno é ser um alimento “dinâmico”. Do ponto de vista nutricional, vai-se adaptando às diferentes fases de crescimento do bebé, permitindo que este seja sempre alimentado da maneira mais adequada em todas as etapas por que vai passando.
No entanto, a sua variação não é apenas nos nutrientes. Ele varia do ponto de vista imunológico, alterando a sua composição em termos de anticorpos e outras moléculas de defesa, mas também em termos de sabor. É consensual que a alimentação da mãe influencia a composição do leite materno e que vai fazer com que este adquira cheiros e sabores diferentes. Este é, claramente, um aspecto muito importante…
Por um lado, os sabores diferentes do leite vão permitir ao bebé conhecer também uma grande variedade de sabores, estimulando assim o desenvolvimento do sentido do paladar. E este aspecto é de tal forma significativo que está actualmente provado que é um facilitador da forma como os bebés aceitam a alimentação ao longo da sua vida futura. Assim, é um bom conselho dizer que “quantos mais sabores a mãe comer, mais sabores o filho come também e aprende a conhecer”.
Por outro lado, temos a questão das alergias. Uma das maiores preocupações relativamente à alimentação das mães que amamentam sempre foi o cuidado de não ingerir alimentos potencialmente mais alergénicos, com medo de que eles pudessem passar através do leite para o bebé e induzir neste algum tipo de reação. No entanto, o que os estudos vieram e têm vindo a demonstrar é exactamente o contrário. O leite materno tem um conjunto de partículas que diminuem a probabilidade do bebé fazer reacções alérgicas, pelo que parece ser benéfico contactar com esses alimentos através deste “veículo”. O risco de desenvolver alergias é menor do que quando se faziam restrições alimentares às mães, pelo que não faz sentido privá-las de nenhum alimento.
Por fim, a questão das cólicas. Ainda é bastante frequente ouvir-se dizer que as mães que amamentam não devem comer alimentos que lhes provoquem cólicas, porque vão ter o mesmo efeito nos bebés (os feijões e os legumes verdes são os exemplos mais recorrentes). Apesar desta ser uma crença popular, com muitos anos de evolução, não faz sentido nenhum do ponto de vista teórico. E não é difícil perceber porquê… O componente desses alimentos que provoca cólicas são as fibras que, por definição, são um nutriente que os seres humanos não conseguem absorver. Como não são absorvidas acumulam-se nos intestinos e levam à produção de gases e ao desconforto que muitas vezes provocam. No entanto, se permanecem no intestino, é completamente impossível que passem para o leite, pelo que não têm nenhum efeito nos bebés. Este é um mito que se tem perpetuado sem nenhum tipo de fundamento e que importa desconstruir.
Assim, a conclusão é simples e a resposta à questão inicial é muito fácil de dar. Não existem alimentos proibidos para as mães que amamentam! Elas podem e devem comer de tudo, tentando fazer uma alimentação o mais saudável possível. A única excepção são as bebidas alcoólicas, que devem ser restringidas e as bebidas com cafeína que, se possível, devem ser reduzidas ou abolidas também. Tirando isso, podem comer tudo. Alimentos como morangos, laranjas, feijões, frutos secos ou marisco podem e devem ser consumidos enquanto se amamenta.
Claro que, apesar de improvável, é sensato ir vigiando para ver se surge alguma reação no bebé, que pode ser de dois tipos: borbulhinhas no corpo (e não apenas na cara) ou algum tipo de desconforto. Se surgir e houver a suspeita de estar associada a algum alimento consumido pela mãe, o melhor conselho é mesmo parar esse alimento durante uns dias. Quando o bebé voltar a ficar “normal”, a mãe deve voltar a comer o que tinha comido para avaliar se surge a mesma reação. Se isso acontecer, o alimento não deve ser consumido novamente, mas em caso contrário a mãe pode voltar a ter liberdade na alimentação. E habitualmente é mesmo isso que acontece…