A época estival é sempre uma boa oportunidade para fazer uma reflexão sobre a sua vida, logo, torna-se incontornável pensar sobre a sua carreira. O tema de hoje irá além das empresas e funções a desempenhar, pois existe uma outra componente, a formativa, que deve estar presente para o/a ajudar a desenvolver-se como profissional e como pessoa.
Por isso, nesta reflexão, os profissionais pensam muitas vezes se devem ou não enveredar por um Master in Business Administration (MBA). Esta sigla, que representa um mestrado na “ciência da gestão”, é hoje frequente nos currículos de muitos. Certamente tem um amigo, colega, familiar ou conhecido que já frequentou um MBA. Por já existirem tantos também já não é um elemento completamente diferenciador e garantia de um bom emprego, como foi até aos anos 90.
A vulgarização do MBA deve obrigar os candidatos a serem extremamente selectivos e ponderados na sua escolha. Esta não se deve limitar à instituição, mas também à fase de carreira, ao país, disponibilidade financeira e tipo de MBA que pretende tirar (Executive ou Full-time). Tem de ter sempre em consideração as certificações internacionais e se pedem ou não os exames reconhecidos a nível mundial: GMAT e TOEFL (ou equivalente).
Afinal o que é um MBA
O MBA é uma “pós-graduação” ou mestrado (caso conclua a tese), reconhecido internacionalmente e geograficamente portátil, ou seja, se tiver a conclusão deste curso numa Universidade que seja certificada será mais facilmente reconhecido e considerado em diferentes partes do mundo. Os conteúdos programáticos tendem a seguir um modelo próximo da realidade do mundo dos negócios, por isso têm tipicamente por base a análise e aplicação de casos práticos.
O MBA mais frequente e com maior notoriedade é o desenvolvido em full-time, ou seja, os alunos deixam (temporariamente ou permanentemente) a empresa onde se encontravam e dedicam-se em exclusivo ao MBA, que tem uma duração de 12 (mais usual) a 24 meses, dependendo do programa escolhido. A versão Executive (ou part-time) permite manter o emprego, mas prolonga a duração do curso para 2 anos. Serão 2 anos em que terá de conseguir gerir tudo o que já fazia, mais um MBA, que é muito exigente em termos de tempo. Tipicamente quem “sofre” são os familiares e amigos mais próximos pois no emprego continuam a exigir-lhe quase sempre o mesmo nível de esforço e dedicação.
Porquê tirar um MBA?
Em primeiro lugar devo dizer, taxativamente, que nem todas as pessoas devem candidatar-se a um MBA. Consoante a profissão, ambição e necessário desenvolvimento profissional, poderão existir outras formações mais adequadas. Contudo, a verdade é que o MBA tem a capacidade de ser abrangente o suficiente para poder ser interessante em quase todas as áreas, sobretudo quando se passa para um nível de gestão de pessoas, orçamentos, empresas.
Se decidir avançar prepare-se! Em primeiro lugar porque é difícil entrar, depois é muito exigente em todo o seu programa e finalmente porque é um considerável investimento financeiro. Mas se é assim porque é que há tantas pessoas a candidatarem-se? São várias as razões para decidir investir o seu tempo e dinheiro num MBA:
- Aumento salarial – os estudos das melhores escolas demonstram uma subida clara de rendimentos nos 3 anos seguintes ao término do MBA.
- Mais e melhores oportunidades de carreira – O MBA dar-lhe-á acesso a mais processos de recrutamento, sobretudo os MBAs que tenham boa reputação, pois há muitas empresas a recrutar directamente nestas universidades. O MBA pode também contribuir para a promoção na empresa onde se encontra.
- Network – terá acesso a um network fortíssimo, por isso não deixe de participar nas várias iniciativas sociais que acontecem ao longo do MBA. Não só para melhor conhecer os seus colegas, mas sobretudo para ter acesso a toda a rede Alumni.
- Conhecimento – Prepare-se para ser inundado por novas teorias e práticas de negócio. Todas as disciplinas funcionam com casos práticos o que lhe permitirá exercitar as teorias que já sabe e as que vai aprender. Será certamente desafiado por professores e colegas, sobretudo se tiver uma turma multidisciplinar e internacional.
- Mindset – Este novo conhecimento irá trazer-lhe uma perspectiva diferente do mundo e do seu papel no mesmo.
- Encontrar um novo emprego – Está desempregado ou a terminar funções e vai aproveitar esse tempo para renovar o seu conhecimento, mas também para procurar um novo emprego. O MBA será um bom cartão de visita para reentrar no mercado de trabalho.
- Mudar de carreira – São muitos os exemplos de alunos que após o MBA conseguem mudar de sector profissional, de função e de País. Tenha em atenção que mudar tudo ao mesmo tempo pode ser contraproducente.
- Começar o seu negócio – A mudança de carreira pode passar por fortalecer a sua vocação de empreendedor e para tal o MBA pode ser a ferramenta ideal para começar o negócio.
- Consolidar curriculum – Muitas pessoas decidem fazer um MBA numa boa universidade para equilibrar uma licenciatura menos conseguida.
- Personal Branding – Tal como referi no artigo anterior vários são os factores que contribuem para a nossa marcar pessoal, e ter um MBA é um desses factores, pois esta é uma prova difícil, que nem todos conseguem aceder ou concluir.
Qual o MBA que devo escolher?
Existem cerca de 2500 programas de MBAs pelo mundo inteiro. Escolher a melhor escola de gestão e, correspondentemente, o melhor MBA, não é uma tarefa fácil, sobretudo porque os que estão no topo dos rankings exigem, notas de GMAT muito elevadas, óptimas referências e são verdadeiramente exigentes nas entrevistas de entrada.
São vários os rankings que premeiam os programas de MBA. Os mais interessantes são elaborados por publicações de prestígio: Financial Times, Economist e da Forbes. Será de realçar que a variável mais importante para a elaboração dos rankings é o salário três anos após o MBA, por isso é normal vermos os MBAs das maiores economias mundiais na frente. Deixo-vos os links para poderem consultar os melhores MBAs do ranking Finantial Times, aqui e aqui.
Como poderão verificar o único MBA português a aparecer nos rankings é o The Lisbon MBA (resultado da parceria das Universidades Nova, Católica e MIT), que ocupa um fantástico 40º lugar no ranking mundial full-time (15º na Europa) e 99º lugar no Executive. Este projecto tem dado excelentes resultados e já conseguiu o seu lugar a nível internacional. Em Portugal existem outros programas: AESE, ISEG, INDEG/ISCTE, Magellan/Porto Business School, UCP Porto. As propinas são muito variáveis, sendo mas as mais elevadas são acima de 30.000€.
Um programa full-time numa universidade internacional pode custar 150.000€ entre propinas, alojamento, viagens. Claro que ao consultarem o ranking também podem verificar que muitos destes programas “oferecem” a possibilidade de duplicar o seu salário em pouco tempo. Por isso, tem de equacionar muito bem estas três variáveis e tomar a melhor decisão para si.
O MBA deve ser ajustado aos seus objectivos, disponibilidade familiar e capacidade financeira. Se o seu objectivo for enveredar por uma carreira internacional fará mais sentido ir estudar para o País onde pretende trabalhar. Caso prefira manter-se em Portugal, e não possa deixar o seu emprego, deve avaliar qual o MBA que melhor se adequa ao seu objectivo de evolução profissional, não só pelo nome da instituição, mas também conteúdos programáticos, professores e network.
Validade
Tudo tem um prazo de validade. Desde a escola primária, à secundária, à Faculdade, ao MBA. Mas tem de saber distinguir os diferentes prazos dentro de um MBA. Se pensar nas pessoas que conhecerá e os amigos que fará terá um prazo muito longo. Se pensar em termos de conhecimentos adquiridos, acontecerá como no passado, os que não usa frequentemente irão desvanecer-se, e os outros permanecerão activos. Se procura saber o prazo que o MBA tem para dar um boost à sua carreira ou fazer a mudança profissional que pretende esse prazo é certamente mais curto. Esta é questão que (quase) todos os alunos colocam. Quanto tempo tenho depois de ter investido tanto?
A resposta não é simples, nem única, pois depende de vários factores, nomeadamente os anos de experiência que já tenha (quantos mais menos diferença fará o MBA), se o sector onde está, ou procura estar, valoriza esta graduação. Genericamente, concluo que a influência directa do MBA na mudança profissional pode ir até dois a três anos após a conclusão do mesmo. Se reparar, os próprios rankings procuram saber o que se passou com os alumni nos três anos imediatamente a seguir ao MBA. Após esses três anos a sua experiência anterior e pós-MBA terão um maior peso na sua promoção ou mudança profissional que procura.
Estas mudanças ou evoluções também são diferentes consoante os programas de MBA. Os alunos do Full-time tem a pressão de a efectivarem rapidamente, pois a maioria não tem emprego assegurado. Os alunos do Executive MBA têm mais tempo pois têm a sua posição e muitos tentam, primeiramente a promoção interna.
Concluindo, considero que há espaço para mais MBAs, mas sublinho que para garantir o esperado retorno no seu investimento tem de analisar bem as diferentes opções de mercado, sabendo que só algumas se ajustarão ao que pretende. Reflicta bem e analise os três grandes pilares da decisão: objectivo profissional, disponibilidade financeira, motivação pessoal. Tente fazer as candidaturas atempadamente para ter mais tempo para se preparar para as mesmas. Este pode ser um passo decisivo na sua vida profissional, por isso invista tempo na tomada de decisão. No final será sempre uma experiência inolvidável e que o ajudará a desenvolver-se como pessoa e profissional.
Bom estudo e boas férias!
* (O autor escreveu este texto com base na ortografia antiga)