Uma nova sede no centro de Lisboa, um extraordinário museu na zona ribeirinha. A edp está a enriquecer o património urbanístico, a devolver mais Tejo aos lisboetas, a colocar a capital portuguesa no mapa da arquitetura espetáculo. O Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (Maat) já é um símbolo, uma nova casa da cultura da cidade.
A obra-prima da arquiteta britânica Amanda Levete quase nos reconcilia com as estatísticas que mostram como em Portugal se paga uma das eletricidades mais caras da Europa. Quase faz esquecer as imprecações ditas no dia em que se recebe a fatura da luz, quase desculpa as rendas excessivas cobradas a todos nós – 46 milhões de euros, segundo os supervisores –, quase justifica a enorme dívida da empresa, quase relativiza os prováveis aumentos de preços no virar do ano, quase perdoa a perda de valor das ações em bolsa no último ano, quase se aplaude a remuneração milionária de António Mexia. Quase.
No regresso a casa, depois do festival de luzes e pompa, a edp global encontra-se… melhor, choca de frente com a edp local, a edp real. Uma edp do tempo do velho museu da empresa, o do edifício de tijolo burro ao lado do Maat. É a edp da minha rua e de tantas outras ruas pelo país.
E aí a arte é outra. Um poste descabelado de fios que um vento forte embala até ao apagão – podia ser uma instalação a retratar as ‘puxadas’ da velha cidade de Nova Deli. Quando os fios não baloiçam, entre postes, parecem lapas contínuas e negras a rasgar as fachadas de edifícios. Mais acima na rua, um posto de abastecimento da empresa tem a pátina do abandono, entre vegetação selvagem e graffitis toscos escritos na parede – a outra que não ruiu para o quintal do vizinho – sobre a mãe da Ana. É a arte da decadência.
O fosso entre a edp global, agora detida por investidores chineses, e a edp real existe. Por vezes, é difícil acreditar que uma é o resultado, a extensão da outra. Através da construção do Maat, a edp devolveu-nos em euros cerca de metade do que nos cobrou a mais, as chamadas rendas excessivas. Talvez o resto seja investido na edp local, na manutenção de equipamentos, em melhores serviços, que não se esgotam nos novos contadores digitais para melhor monitorizar os clientes. Até porque sem os clientes reais, os que sobraram de um monopólio que ainda existe, não há edp global.