Um dos temas interessantes que resulta das eleições europeias de 25 de Maio é o que procura projectar o resultado das legislativas de 2015.
A dúvida essencial é esta: são as eleições europeias um voto de protesto contra os governos em exercício, voltando os eleitores a apoiar esses governos após terem dado largas à sua ira, ou são uma manifestação ajustada da proximidade política no momento do voto, podendo constituir um bom estimador do que irá acontecer nas legislativas seguintes?
Para construir uma opinião sobre o assunto, importa analisar os resultados comparados de europeias e legislativas desde 1987 (data da realização das primeiras europeias). E uma vez que o PSD e o CDS concorrem coligados em 2014 – e sempre que governaram, desde 2002, foi em coligação – podemos opor os votos de PSD+CDS aos do PS. Ou seja, para facilitar, o que é comum chamar-se a direita e a esquerda do “arco da governação”.
No quadro que a seguir se apresenta, os valores correspondem à vantagem do governante sobre o governado em determinado momento do tempo.
Que concluir?
Por um lado, há dois casos (1987 e 1999) em que as diferenças das europeias são quase iguais às das legislativas. Há também outros dois casos (1994 e 2004) em que os resultados das europeias traduzem de forma muito aproximada os das legislativas do ano seguinte (é o caso das europeias de 2004) ou a tendência que se observará no ano seguinte (é o caso das europeias de 1994).
Em contrapartida, há dois casos (1989 e 2009) de desvio em prejuízo do governo em funções. E são estes os exemplos normalmente usados para defesa da tese do “voto de protesto”.
Quando se diz “as europeias de 1989 deram 33% ao PSD, depois de este ter obtido 50% nas legislativas de 1987 e vir a obter 51% nas de 1991”, esquece-se que muitos dos não-votantes no PSD foram eleitores do CDS libertos do “voto útil”. No entanto, é um facto que observamos, nessas europeias, uma supremacia de apenas 19% para a direita, quando, nas legislativas de dois anos depois, será de 26%.
Quando se diz “as europeias de 2009 deram vitória ao PSD, depois de o PS ter vencido as eleições legislativas de 2005 e antes de voltar a vencer as do próprio ano de 2009”, esquece-se que o PS ganha em 2009 com menos votos do que a direita. No entanto, é um facto que a supremacia da direita é 10% maior nas europeias.
De qualquer forma, é ainda importante notar que, em ambos estes casos mais “desviantes”, as europeias indicaram uma tendência que se veio a verificar, embora com menos intensidade, nas legislativas que se sucederam.
Por essa razão, e perante tudo o que foi dito, não parece que as europeias possam ser associadas a um voto de protesto. Não o são, claramente, em quatro das seis eleições. Nas outras duas, talvez exista uma certa “distorção”, com alguma experimentação em partidos alternativos ou em candidatos com especial carisma, tal como devemos igualmente admitir uma “distorção” nas legislativas, provocada pelo voto útil. Mas, de uma maneira geral, devemos concluir que as europeias traduzem as proximidades políticas que os eleitores sentem e constituem uma afirmação de tendência real, eventualmente um pouco sobredimensionada.
Para terminar: perante os resultados de 2014, como projectar os resultados das legislativas de 2015?
Seguindo a análise anterior, é de assumir que estas europeias anunciam uma mudança. Mas também devemos admitir que possam anunciá-la com algum exagero. Logo, é dedutível que as próximas legislativas venham a ser muito renhidas.