Em 1946, conheci uma mulher chamada Fúlvia. Lembro-me muito bem dela. Nas décadas seguintes, até hoje, nunca mais conheci nenhuma outra pessoa com esse nome. O nome, aliás, coincidia com a figura: era uma mulher alta, elegante, com uma cabeleira acobreada, redonda, que lhe coroava a cabeça como uma auréola de fogo.
Conheci-a no vagão-restaurante de um comboio. Pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra. África a desfilar pelas vidraças, como num ecrã de cinema, o verde-limão do capim e o barro roxo, crescendo para o céu como um incêndio; a profunda humidade; o ardor de um ar carregado de faúlhas. Ela entrou, com um vestido vermelho, justo ao corpo, com folhos, e instalou-se de repente um silêncio solene em todo o compartimento. Dirigiu-se para a minha mesa, sem sequer reparar nas outras: