Já não me lembrava que tinha em casa um telefone fixo quando fui surpreendido pelo som de uma campainha. Removi papéis, livros e embrulhos no tampo da secretária até encontrar o enrouquecido aparelho. – Senhor Adérito, sou sua vizinha – anunciou uma voz doce. E depois de uma pausa, a dona da voz revelou o propósito daquela chamada. – Déritinho, você pode subir? Demorei a sintonizar: Déritinho? Há anos que ninguém me chamava assim. Sou Adérito, para os devidos efeitos. O diminutivo serviu para uso reservado de amigos de infância. Desses amigos já ninguém estaria vivo.
– Subir? – perguntei, a medo.