O conjunto dos Clérigos, composto pela igreja, a torre e o edifício intermédio, agora transformado em museu, mas onde, em tempos idos, funcionou o antigo hospital dos “clérigos pobres “, foi construído numa estreita faixa de terreno, que ficava da parte de fora da muralha fernandina, e a que se dava o nome de “campo das malvas“. Antes da construção dos Clérigos (1732 – 1748), era nesse descampado que se enterravam os malfeitores, os ladrões e assassinos, que espiavam as suas culpas na forca. Por aquele tempo os enterramentos faziam-se, como era da tradição, no interior das igrejas. Mas um enforcado não tinha direito a ser enterrado no solo sacrossanto de um templo. Abriam – lhe a cova num sítio maninho, ou numa encruzilhada de caminhos, e aí o sepultavam, como se fazia com os animais. Aqui, no Porto, os facínoras eram enterrados no “campo das malvas “. Conta-se que, certa ocasião, ali foi sepultado o corpo de um jovem cordoeiro que fora enforcado por ter assassinado, à navalhada, um outro jovem que lhe andava a requestar a namorada. O povo, a propósito do crime, inventou uma cantilena que era entoada aí pelas ruas do burgo. Dizia assim: “Ai Jesus que vou para as malvas / caminhando pelas urtigas / vão os rapazes para a forca / por causa das raparigas.” Aquela expressão popular de “mandar para as malvas “tem a ver com tudo isto. Significa mandar para a morte mais ignominiosa.
Mandar para as malvas
Lucília Monteiro
Em mais uma História portuense, Germano Silva leva-nos à origem da expressão popular
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