Houve um tempo em que as campanhas eleitorais se faziam ao volante – e às vezes no teto de abrir – de Citroëns dois cavalos ou Minis Morris, com megafones, bandeiras coloridas, cartazes artesanais e ramos de flores. As pessoas amontoavam-se junto às bermas, para ver passar os candidatos, e isso incluía adultos e crianças, como se fosse dia de festa.
Em 1986, quando Mário Soares, Freitas do Amaral, Maria de Lourdes Pintasilgo e Salgado Zenha se defrontaram nas únicas presidenciais em que houve segunda volta, o país político sobreviveu a uma dessas campanhas. Parecia, então, que seriam as eleições mais disputadas de sempre, e a prova disso é que não ganhou o candidato que estava mais bem posicionado na primeira ida às urnas.
Nesses tempos, havia volte-faces capazes de mudar as intenções de voto e baralhar sondagens. Como a célebre tentativa de agressão a Mário Soares na Marinha Grande (bastião comunista que tinha, à entrada, uma placa a dizer Moscovo). Numa ação de campanha que partiu da Praça Stephens, o candidato do PS foi alvo de insultos e de um projeto de bofetada que ficou para a história.
Com dez concorrentes, alguns dos quais empenhados a chegar ao palácio cor de rosa, a atual campanha eleitoral está a ser das mais férteis em imagens, digamos… descontraídas. Nem sequer é preciso ser rebuscado. E apesar de Tino de Rans ter sido apanhado a fazer um buraco na praia, ao estilo canídeo, não são os candidatos mais desconhecidos a dar os melhores bonecos.
Se não, recorde: Marcelo apareceu a cozer fogaças e a vender pastéis de nata; Nóvoa deixou-se fotografar a dar toques na bola e a apanhar cavacas com um guarda-chuva ao contrário; Belém foi retratada ao volante de um camião dos bombeiros e a comer uma bifana de Vendas Novas. Isto sem referir as inúmeras imagens em feiras, entre chouriços, peixe-espada ou legumes frescos.
Seria para mim uma enorme dificuldade se tivesse de votar no momento ou na imagem mais hilariante da campanha. Mas estou certa de que não seria um debate.