No Congresso do PS não houve novidade nenhuma. Nem sequer a novidade de não a haver, pois era o que já se esperava. O partido está unido. Satisfeito consigo próprio, com o Governo e sua ação. E feliz, decerto sobretudo com a previsibilidade de continuação no poder. Tendo um líder hoje indiscutido e indiscutível. Justamente, diga-se, dada a sua competência, experiência e talentos políticos. Sem prejuízo, para lá de alguma questão mais de fundo, das críticas aqui feitas, por exemplo, à forma de relacionamento (a certa altura) com o PSD e ao “tratamento” dado a Rui Rio.
Tal unidade e satisfação são usuais, pelo menos à superfície, sempre que um partido governa e tudo indica que o continuará a fazer. Em tais circunstâncias os congressos são mornos, mais de autocelebração do que de discussão. Como aconteceu neste. Que, ocorrendo a poucas semanas do sufrágio para as autárquicas, como é compreensível, teve ainda o sabor de jornada de propaganda eleitoral. No entanto, pareceu-me que mesmo à autocelebração faltaram a liturgia e o (aparente?) entusiasmo de congressos anteriores, talvez pela falta de preparação/encenação habitual para o efeito, devido à pandemia e suas consequências.
Tendo sido o próprio António Costa quem mais “puxou” pelos delegados, creio ter ficado patente que o PS precisa de um suplemento de alma, de uma específica grande causa concreta e mobilizadora, como foi e é a do Serviço Nacional de Saúde (tendo sido merecida, e significativa, a espécie de “consagração” de Marta Temido). E entre os principais objetivos propostos, vejo como mais adequado para o efeito o do combate à chamada “pobreza infantil”, não ignorando que, além do resto, ela é indissociável da pobreza em geral.
A moção aprovada no Congresso aborda questões essenciais do País e tem muitos aspetos positivos. Julgo, porém, haver outras questões importantes a tratar, inclusive a reforma do sistema eleitoral. Dir-se-á que neste momento não são “prioritárias”. Mas quando é que o são ou o serão? – e continua sempre tudo na mesma… Aliás, volto a chamar a atenção para a conveniência ou a necessidade de o PS revisitar e ter em consideração as conclusões do mais significativo conclave de reflexão e debate por si promovido, tendo como líder António Guterres, com larga soma de independentes: os Estados-Gerais para uma Nova Maioria.
Face à realidade sugerida, com pouca matéria propícia a alimentar aquilo a que certos media dão mais relevo, falou-se muito de “tabus”. Isto dos tabus já é velho no jornalismo que não prima pela qualidade e imaginação, como tal classificando de natural a não resposta de políticos a certas perguntas sobre o que irão fazer no futuro. Foi assim com a recandidatura de Marcelo, que nunca foi um tabu; é assim agora com António Costa, que tem só 60 anos, e seu futuro político.
A isto ligada aparece a novela dos possíveis “sucessores”. Saliento só, como facto mais insólito do Congresso, o terem (as)sentado na mesa da presidência os presumíveis ou putativos candidatos a sucessores de uma sucessão que neste momento não existe, não se anuncia nem se prevê. Porquê e para quê? Mistério. Mas ao menos, depois, não se queixem dos jornalistas.