A Dielmar é uma das mais icónicas marcas portuguesas de vestuário. A firma de Castelo Branco, que, além da produção, possui lojas de roupa e alfaiataria em diversos pontos do País, especializou-se em produtos virados para as clientelas do “fato domingueiro”: executivos e outros consumidores de roupa formal. Já antes da pandemia, com o declínio da procura, por via do informalismo dos tempos e do avanço do estilo desportivo, a gestão da Dielmar, por não ter apostado noutro tipo de gamas (talvez não estivesse no seu ADN), era periclitante. E logo que pôde, a empresa aderiu ao layoff do confinamento. Agora, assume-se como a primeira grande vítima coletiva do novo coronavírus: a suspensão de casamentos e batizados, e as restrições de presenças impostas a este tipo de eventos – cerimónias públicas e privadas, encontros sociais, vernissages, festas, cocktails, apresentações – resultaram numa quebra brusca das suas vendas. Mas a grande machadada foi a institucionalização do teletrabalho: os serviços começaram a cumprir o seu horário laboral… em cuecas.
A insistência do Governo na recomendação do teletrabalho, sempre que seja possível – o que vai dar ao mesmo, pois se era possível quando era obrigatório, também o é agora… –, provoca efeitos no tecido económico português, que, embora não estejam imediatamente à vista, têm na Dielmar uma eloquente ponta de icebergue: restaurantes e pequenas tascas, cafés, pequeno comércio, quiosques (e, portanto, os jornais…), táxis e TVDE, postos de abastecimento e sabe-se lá que mundo de micro, pequenas e médias empresas ficam com a corda na garganta, imediatamente, por causa da ausência de circulação de pessoas. No futuro, outros setores estarão ameaçados, da venda de automóveis aos serviços de limpeza, passando pelo… vestuário de todos os dias.
Ora, mesmo que a pandemia acabe, estes negócios não voltarão ao que eram antes. Embaladas por alguns bons resultados na experiência do teletrabalho, diversas empresas estão já a pensar em adaptar o contrato laboral, fazendo planos para a adoção do sistema como uma solução definitiva. O recado que a falência da Dielmar nos sopra aos ouvidos é, portanto, o da mudança do paradigma da Economia. Entretanto, ao resultado dos censos só faltava a uma região como a de Castelo Branco ficar sem um dos seus principais motores de desenvolvimento e fixação populacional. Para os albicastrenses, é mesmo uma espécie de fim do mundo – em cuecas. Mas o tal novo paradigma pode passar por atrair novos habitantes que, a partir da Beira Baixa, entrem… em teletrabalho.