Há uma pergunta que ganha cada vez maior atualidade e pertinência: o que acontecerá se o vírus for mais rápido a mutar-se, com estirpes mais resistentes e imunes às nossas armas e proteções, do que nós a vacinar todos os grupos de risco e a população, em geral? Aquela que pensávamos que seria uma corrida para regressarmos, o mais depressa possível, à vida normal começa a transformar-se, afinal, numa prova de velocidade contra o vírus e as suas variantes.
Por aquilo que sabemos hoje da parte da Ciência, sempre que infeta alguém, o vírus adquire também a possibilidade de mutar-se, com potencial para se tornar mais mortal, mais transmissível e até mais resistente às vacinas que temos. Felizmente, não é isso que acontece na esmagadora maioria das vezes: entre os mais de 110 milhões de pessoas contagiadas em todo o mundo e entre as milhares de mutações já identificadas pelos cientistas, muito poucas são, de facto, preocupantes. Mas, mesmo sendo poucas, estas são suficientes para lançar o alarme, obrigar a “atualizar” as vacinas e, acima de tudo, para nos forçar a acelerar o nosso ritmo na vacinação, para lhe ganharmos e chegarmos à “meta” antes dele.
A corrida só será ganha se for global, caso contrário corremos o risco de até imunizar a população de um determinado país mas, depois, esta ter de manter-se isolada, numa espécie de “bolha”, única forma de evitar a entrada de outra variante mais perigosa. É essa a razão por que tanto Israel como o Reino Unido, apesar das percentagens elevadas de vacinação, continuam a fechar as suas fronteiras e a impedir, ao máximo, o contacto com o exterior.
A situação é conhecida: se mesmo nos países ricos vamos ter de esperar pelo final do ano para se ter uma taxa de vacinação que permita algum levantamento das medidas de controlo, nos países pobres e em desenvolvimento vai ser preciso, a este ritmo, esperar ainda alguns dois a três anos para se obter um resultado semelhante. Ou seja: estamos mesmo a correr o risco de perder a nossa corrida contra o vírus e de chegarmos atrasados à maior parte da população mundial, permitindo que novas variantes se espalhem, sem controlo.
Avançar depressa com a vacinação nos países em desenvolvimento – geralmente os últimos a beneficiar dos avanços da medicina – é, neste contexto, absolutamente vital para o controlo da pandemia. E os países desenvolvidos têm a obrigação de garantir que ninguém ficará para trás neste combate que só pode ser ganho com um esforço global e concertado. Nem precisam de fazê-lo por solidariedade, basta que o façam por egoísmo: se a Covid-19 não for erradicada dos países pobres, também os países ricos nunca mais se verão livres da pandemia.