Se a zona euro perder um único dos seus membros, será o mercado único e a própria ideia de União Europeia que estará em risco. O Syriza sabe disso. E é com esse trunfo, a que alguns chamam chantagem, que o primeiro-ministro Alexis Tsipras e o seu lugar-tenente das Finanças, Yanis Varoufakis, têm jogado o jogo do gato e do rato. É verdade que, na série de Tom & Jerry, o gato, estúpido, trapalhão e azarado perde sempre. Mas as leis da Natureza têm pouco em conta as regras dos desenhos animados: o felino é o predador e o roedor é a presa. Na fita que agora se desenrola, de tanto procurar escapar, o rato grego pode atirar-se para um precipício – e levar o gato europeu com ele. A saída da Grécia do euro representaria um revés inédito e o primeiro recuo importante na construção europeia. A quebra de confiança não se sentiria apenas ao nível dos mercados financeiros ou da Economia – até porque a “grexit” (neologismo que incorpora a palavra inglesa para “saída” – “exit”) – já não representará, como representava há uns tempos, um rombo inadmissível no sistema financeiro, eufemismo para bancos alemães… O problema é que tal saída representaria, isso sim, uma irreversível perda de confiança dos povos europeus, de todos, e dos seus países, deitando por terra o ideal de uma abordagem cooperativa dos problemas. Uns, os mais ricos, porque veriam provada a “incapacidade” de os mais pobres acompanharem o ritmo. E os mais pobres, porque veriam exposta a incapacidade de integração. Nuns e noutros medrariam os nacionalismos. Os gregos têm ainda muito a perder. Para bem deles, têm de ceder mais. Mas Bruxelas também tem de ceder mais. Um furo na Zona Euro rebentará com a credibilidade daquele que foi, na História Universal, o mais significativo projeto pacífico de integração entre povos. Ora, como nos explica a mesma História, será preciso a “purificação” de uma guerra para que a Europa volte a conhecer uma era de prosperidade. Queremos isso?
É no decurso deste emocionante thriller que os principais partidos se digladiam, em Portugal, em plena pré-campanha eleitoral. O tema mais delicado – e aquele em que PSD e PS, embora o não confessem, estão de acordo – é o do fim da Segurança Social (SS) tal como a conhecemos, e o risco da implosão do sistema de pensões. Foram os défices excessivos, não provocados pelos estímulos à economia, mas para pagar as prestações sociais decorrentes da crise, que nos levaram a este ponto. Uma reforma considerada internacionalmente exemplar, como a de Vieira da Silva (Governo Sócrates) e que era para durar 20 anos, está subitamente obsoleta. O polícia mau do PSD (Maria Luís Albuquerque) fala em mais cortes. O polícia bom (posição oficial do partido) diz que nada está planeado nesse sentido – o que em nada desmente a intenção… Já o PS quer baixar a TSU, retirando ainda mais receita à SS, esperando que o correspondente estímulo à Economia acabe por compensar o “investimento”, com retorno para a mesma SS. Nenhuma das duas soluções satisfaz: a primeira baixa os braços e traz mais miséria. A segunda é uma roleta russa: falta demonstração entre causa e efeito. Menos TSU pode resultar, não em mais investimento, mas em mais dividendos. É sempre a história do gato e do rato, entre o interesse particular e o interesse coletivo. Para os pensionistas está reservado o papel de ratinhos de laboratório. E o queijo não dá para todos.