Hoje é o domingo da estreia do Maracanã na Copa. Argentina e Bósnia irão defrontar-se na primeira jornada do grupo F. Aliás, o Rio de Janeiro foi invadido por argentinos, os grandes rivais do Brasil. Há uns dias visitei o estádio para entrevistar os dois portugueses que lideram a organização e a logística do “Maraca” (o resultado dessa conversa será publicado no próximo número da Visão). Parecia estar tudo pronto. E ainda que a Copa não tivesse começado ainda, já havia centenas de adeptos de vários países, em redor do estádio, tirando fotos, confraternizando e dando moedas ao gordinho que, com uma cabeleira postiça, dava toques numa bola e fingia ser o Maradona.
O Maracanã de hoje pouco tem daquele estádio, com capacidade para 200 mil pessoas, que foi inaugurado para a Copa de 1950, e onde o Brasil perdeu a final com o Uruguai, num evento malogrado que ficou conhecido como Maracanaço pelo trauma que legou aos brasileiros. O estádio tem agora capacidade para 76 mil adeptos e a sua reforma – muito polémica e contestada – custou 400 milhões de euros, o dobro do previsto. O Brasil voltou a jogar duas finais no Maracanã, em 1989, com o Uruguai (Copa América), exatamente no dia do Maracanaço – 16 de Julho – e no ano passado, contra a Espanha (Copa das Confederações). Ganhou as duas. Uma das diferenças entre a arena de hoje e o estádio de 1950 é que os adeptos podem sentar-se em cadeiras numeradas. No entanto, apesar das mudanças, os adeptos brasileiros ainda preferem estar em pé. “Até no camarote VIP não conseguem ficar sentados”, disse-me Alexandre Costa, um dos portugueses responsável de operações do estádio.
Salto de peixe? Não, “persieing”
Depois de atropelar a Espanha, atual campeã do mundo, a Holanda já regressou ao Rio de Janeiro, a sua base para este mundial, e os adeptos desataram a fazer fotos que imitam a posição de Van Persie após marcar o primeiro golo holandês – resultado de um magnífico salto. Depois de rematar de cabeça, Van Persie ficou deitado de barriga par baixo, cara na relva e braços abertos. Os holandeses chamam-lhe agora “persieing”.
Hinos interrompidos
Já na Copa das Confederacões, em 2013, no Brasil, a FIFA tinha seguido o exemplo da cerimónia dos Oscars, em que os discursos dos vencedores têm o tempo contado e são interrompidos pela orquestra caso se ultrapasse esse limite. A FIFA decretou que os hinos dos países, antes dos jogos, só podem tocar por 90 segundos. No ano passado, a Copa das Confederações coincidiu com as manifestações e protestos que abanaram o Brasil, numa altura em que tanto a Copa do Mundo como a FIFA já eram olhadas com desconfiança – pelos gastos exagerados da primeira e o caráter despótico da segunda. Em Junho de 2013, tal como no jogo inaugural desta Copa do Mundo, tanto os jogadores brasileiros como o público continuaram a cantar o hino mesmo depois de cortada a música. Um gesto de orgulho e de irreverência. O mesmo aconteceu com o Chile, que também tem um hino longo.Alguns números da Copa
3,1 milhões de brasileiros irão descolar-se dentro do país por causa da Copa.
600 mil visitantes estrangeiros.
8,6 mil milhões de euros de dinheiro público investido.
330 milhões de euros serão gastos no Rio de Janeiro pelos visitantes.
181 mil agentes de segurança, entre polícias, exército e privados.
15 mil voluntários
Porta dos fundos
O grupo de atores, comediantes, guionistas e realizadores que estourou no Youtube, e que, em apenas um ano, se tornou num sucesso da rede com vídeos como “Sobremesa” ou “Ciclo da vida”, vai atuar em Portugal no início de Julho, com participações especiais de Ricardo Araújo Pereira e Salvador Martinha. Até lá, Porta dos Fundos vai lançar, todos os sábados, vídeos sobre a Copa.
A Copa dos outros
O escritor Luis Fernando Veríssimo, que já escreveu sobre várias Copas e que faz parte de uma tradição de grande qualidade na crónica brasileira sobre futebol, explica por que o centroavante (pontade lança) é um ser tão só: “É uma solidão de hermita, de faroleiro, de náufrago de cartum. Ninguém é mais sozinho que um centroavante. Ele está sempre rodeado de gente. Mas são inimigos”. Para ler no Estado de São Paulo.
Frase do Dia
“Em 1970, presa pela ditadura, torci pela seleção, pois o futebol está acima da política”.
– Dilma Rousseff, presidenta do Brasil
Um pouco de Chile
O Chile apresenta, possivelmente, a sua melhor seleção em muitos anos. Mas o que sabemos nós sobre esse país além de Augusto Pinochet, Salvador Allende, Pablo Neruda ou Isabel Allende? Sim, é um excelente produtor de vinho e uma das democracias sul americanas mais sólidas, beneficiando de uma economia que tem crescido entre 4 e 5 por cento ao ano. Mas também produz rappers de exceção: Ana Tijoux, cuja música “1977” fez parte de uma famosa sequência da premiada série “Breaking Bad”. Ana Tijoux acabou de lançar um disco novo (e muito bom). Intitula-se “Vengo” e tem uma canção chamada “Somos todos erroristas”.