Já se sabe qual o partido que ganhou as eleições e as posições relativas de todos os outros, mas está tudo em suspenso. Aguarda-se o fim do ciclo eleitoral que termina este fim-de-semana, com as autárquicas, para se conhecerem os rostos que vão governar o País. E para se perceber quais serão as prioridades e a fórmula que José Sócrates adoptará para as fazer aprovar no Parlamento. Presume-se que o próximo Executivo seja minoritário e os entendimentos de geometria variável, isto é, que o PS procure aprovação à esquerda ou à direita, conforme as matérias e a capacidade de negociação da equipa governativa.
Ao contrário do muito que se diz, os governos minoritários não têm que ser necessariamente fracos. É verdade que o PS de Sócrates está bem mais débil que na legislatura anterior, por ter perdido mais de 500 mil votos e 25 deputados e por o próprio líder socialista ser hoje um personagem muito mais desgastado do que era há quatro anos e meio, quando se apresentou à primeira eleição. Mas, ainda assim, é bom não esquecer que o primeiro executivo de Cavaco Silva era, em termos de representatividade, bem mais minoritário – 29,8% dos sufrágios contra os 36,5 agora obtidos pelo PS – e isso não o impediu de ser considerado um dos melhores governos pós-25 de Abril. Essa experiência permite, também, tirar uma outra conclusão: ao invés de facilitar o caminho das oposições, o convívio com governos minoritários estreita largamente a sua margem de manobra. Isto porque as maiorias absolutas desresponsabilizam os outros partidos parlamentares, que, não havendo perigo de queda do Governo, concentram toda a sua energia no controlo e na denúncia de quem tem força bastante para aprovar tudo sozinho. Na situação actual, as oposições ficam mais expostas e qualquer deslize servirá para um julgamento implacável do eleitorado. E tudo se torna ainda mais difícil quando se vive uma crise profunda como a actual. Por isso, o mais certo é assistirmos a uma espécie de jogo do gato e do rato, com o Governo a tentar vitimizar-se a cada ataque da oposição e esta a procurar fugir às cascas de banana que Executivo e PS irão, inevitavelmente, lançar-lhe.
Assim sendo, facilmente se percebe a importância de os partidos terem a casa arrumada nesta fase. Ora, acontece que se as eleições fortaleceram Portas e Louçã e permitiram a Jerónimo sair incólume, o mesmo não se passa com o PSD. A derrota foi grande, a estratégia péssima e a líder mostrou não ter força anímica para enfrentar os desafios que aí vêm. O mais natural seria, portanto, pôr o seu lugar à disposição e abrir um processo de eleições internas. O problema é que o calculismo que, nos últimos anos, se apoderou das hostes sociais-democratas faz temer o pior. Marcelo, cuja verdadeira vontade é ser candidato presidencial, já está a condicionar tudo. Pressentindo que Cavaco pode não se recandidatar depois da desastrada gestão do “caso das escutas”, quer diferir a decisão do partido para um tempo em que os cenários serão mais claros, logo mais propícios para si próprio – Maio de 2010. É bom que não lhe façam a vontade.