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Filipe Luís: “O tratamento dentário”
O penúltimo debate, sempre à hora do jantar. A acompanhar, uma tomatada a rigor, queijo de Castelo Branco, tinto de Santa Marta de Penaguião e maçãs biológicas. Dois homens inteligentes no écrã. Vamos ver.
Francisco Louçã começou perro, trapalhão, como que ainda a responder a Sócrates, na tentativa de ter uma segunda oportunidade de causar uma primeira boa impressão (tema das nacionalizações), e acabou bem, por cima, dando a sensação de vitória. Sim, ganhou o debate (embora à tangente) e desforrou-se da derrota perante Portas, quando do recontro a propósito do referendo sobre o aborto. Apesar da diatribe final de Portas, sobre os “telemóveis tributados”, com Louçã a responder que as “alcavalas” – forma de fugir aos impostos, como sabemos… – também são rendimentos. Adiante. Foi um debate vivo, estimulante, denso mas descontraído. Curiosamente, nenhum deles foi especialmente demagógico – ao contrário, também, do que é hábito. O meu bloco de apontamentos está cheio de anotações – não tive tantas, em nenhum outro. Tenho que seleccionar apenas alguns pontos, para não maçar o leitor.
Fair play
Em primeiro lugar, e ao contrário do que vem sendo hábito, raras vezes os debatentes cederam à tentação de aproveitar o tempo de antena para malhar no ausente José Sócrates. Jogaram o jogo pelo jogo, sem taticismo nem anti-jogo. Debateram as suas ideias e não invocaram terceiros. Como se as eleições se decidissem entre os dois.
Altos e baixos
Louçã começa por criticar a nacionalização do BPN e depois defende as nacionalizações. Portas, que até tem, na rua, um cartaz contra a intervenção do Estado no BPN, explora bem o paradoxo. Fica em vantagem. Salário mínimo: Paulo Portas desmonta bem os argumentos de Francisco Louçã, que percebe e recua. A opinião contra a existência do salário mínimo, de um “puto” da JC, não vincula o CDS. Mas, a partir daqui, Portas só terá vantagem, de novo, quando puxa pelos louros da Direita, e de si próprio, no campo da assistência social. Bem, mas Louçã devia ter-lhe dito que o BE nunca esteve no Governo… Entretanto, Louçã, um pouco trapalhão de início, abalado pela má prestação contra Sócrates, começa a soltar-se. E deita a mão aos truques trazidos de casa…
Vários truques e um argumento
Comecemos pelo argumento: Francisco Louçã é o primeiro político a desmontar, totalmente, a retórica de Paulo Portas contra o rendimento mínimo (Rendimento Social de Inserção, RSI). Portas é contra, porque há muitos que vivem daquilo e não querem trabalhar. Pois bem. Louçã vai bater onde doi mais: nos queridos “lavradores” de Portas. Que também recebem subsídios e compram Land Rovers. E nos pequenos e médios empresários do Norte. Que também recebem subsídios e compram Ferraris. E não é por isso que se vai generalizar, dizer que é tudo fraude e acabar-se com os subsídios, que a maioria merece e aproveita bem. Paulo Portas não tem resposta. E isto é importrante, porque é um dos grandes argumentos de campanha do CDS… Mas é nos truques que surgem os momentos mais deliciosos: Louçã cita a Igreja Católica para defender a sua dama, na Imigração. Sabe que Portas não pode contestar a Igreja. E, como paladino das causas fracturantes – aborto, homossexuais… -, Louçã é insuspeito: “Não sou eu que digo! É a Igreja!”. Genial.
Mas o melhor está reservado para os dentes: o CDS recusou a assistência dentária no Serviço Nacional de Saúde (foi pena Louçã esquecer-se de que foi o ministro socialista Correia de Campos quem corrigiu a situação…). O CDS! O CDS, cujo líder é famoso pelos branqueamento nos dentes e pelo sorriso Pepsodent!
Talvez não seja genial. Mas é divertido.