Tínhamos uma menina de 3 anos, a Miriam, e fomos à procura do menino. Engravidei logo, ficámos felizes da vida, eu e o Edgar, o meu marido. Na primeira ecografia, assim que o doutor põe o aparelho na minha barriga, veem-se dois bebés. Gémeos! Ele começa a mexer e aparece o terceiro. Já eu estou a rir-me à gargalhada, e pergunta-me: “A senhora fez algum tratamento?” Respondo que não, e surge nova manchinha no ecrã, o quarto. Ele insiste na questão do tratamento, e eu repito que não, que só queria um rapaz, que não era preciso a equipa toda de futsal do Benfica.
Aceitei facilmente que ia ter quadrigémeos. Só quando comecei a fazer contas às fraldas e ao resto é que me caiu a ficha. Como iríamos criar cinco filhos?, pensei. O Edgar andou uma semana em “coma”, sem articular palavras. Na época, se calhar, não queríamos admitir, mas receámos que pudessem nascer com algum problema.
Na ecografia seguinte, soube que não ia ter direito ao rapaz. Vinham lá quatro meninas. É raro tantos gémeos de um só sexo. Fiz o exame na Maternidade Alfredo da Costa e conheci lá o Dr. House português, de tão “simpático” que era. Disse-me que, se chegasse às 29 semanas com as minhas filhas ainda na barriga, seria um milagre, que o mais certo era uma não sobreviver e que, se sobrevivessem todas, elas iriam ter grandes problemas de saúde. Às 33 semanas, a 26 de junho de 2009, nasceram, com um total de 7,085 kg. E estão cá todas, saudáveis.
Ao fim de 20 dias, estava toda a gente em casa. Tenho duas iguais e duas diferentes, o que quer dizer que era para ter trigémeas, só que um dos óvulos achou que era pouca a festa e dividiu-se ao meio. A Zaida, a Alícia, a Cíntia e a Dânia chegaram para revolucionar a nossa vida.
O Edgar juntou as férias à licença de paternidade e fomos viver com os meus pais, nesses primeiros tempos. Quando ele regressou ao trabalho, voltámos ao nosso T2, no Pinhal Novo, e aí começou a minha aventura sozinha como pentamãe. Muita gente dizia que eu não ia conseguir, que era impossível com as cinco, mas, a partir dos três meses, as gémeas começaram a dormir sete ou oito horas seguidas. Rapidamente deixei de passar as noites acordada e de escrever num quadro a que horas tinham comido e mudado a fralda.
Mil fraldas num mês
Tudo se resolvia. Uma vez, tinham elas 13 meses, tive de ir com a Dânia ao hospital. Caiu e abriu o queixo. Fui chamar a minha vizinha Céu e ela ficou com as outras. Por mais que eu viva, nunca vou conseguir pagar-lhe tudo o que fez por mim. Passava-me a ferro, fazia-me sopa e dava banho e o jantar às meninas, sempre que era preciso.
Decidi ficar com elas em casa até entrarem para a pré-primária do Estado, aos 3 anos. Não compensava voltar a trabalhar para gastar €800 por mês no infantário. Foi uma bomba de despesas que nos caiu no colo. No primeiro mês, gastámos quase mil fraldas. Com o leite em pó, só essa conta chegou aos €510. Os meus pais ofereceram e foram sempre ajudando nos gastos extraordinários, como os sapatos ortopédicos da Zaida
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Na Maternidade Alfredo da Costa, conheci o Dr. House português, de tão “simpático” que era. Disse-me que, se chegasse às 29 semanas com as minhas filhas ainda na barriga, seria um milagre, que o mais certo era uma não sobreviver e que, se sobrevivessem todas, iriam ter grandes problemas de saúde. Às 33 semanas, a 26 de junho de 2009, elas nasceram, com um total de 7,085 kg. E estão cá todas, saudáveis
Entretanto, mudámo-nos para uma casa deles, no Montijo, com cinco assoalhadas, mas estive dez meses sem rendimentos. Foi a fase mais crítica na gestão do orçamento familiar. Cheguei a ir à Cruz Vermelha aviar-me de bens essenciais, como cereais, massa, arroz e salsichas. Vivíamos do salário do Edgar, pouco acima dos €700, e do abono das gémeas. Eu fiquei desempregada durante a gravidez, o subsídio de desemprego já tinha acabado. Não tive direito ao RSI (Rendimento Social de Inserção), porque não pagava renda e o salário do Edgar estava acima do limiar da pobreza.
Felizmente, já estou há nove anos numa fábrica do ramo automóvel, sempre a trabalhar por turnos, e as contas endireitaram-se desde então. A certa altura, também tivemos de trocar o carro de cinco lugares por um de oito, a única maneira de transportar toda a gente.
Até ao 6.º ano de escolaridade, as gémeas coincidiram na mesma turma, mas neste ano letivo separei-as. A Dânia chumbou e ficou para trás, e as outras estão no 7.º ano em turmas diferentes. Elas não são nenhumas santas e tiveram problemas disciplinares, mas, muitas vezes, quando uma fazia asneira, as outras também pagavam, até a mais sossegada. Agora, chegam a casa com histórias diferentes e os jantares são muito mais divertidos.
As semanas passam a correr. As quatro praticam basquetebol e três têm aulas de música. A Dânia toca percussão, a Zaida clarinete e a Alícia toca trompa e pertence à banda da Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro. Aos fins de semana, há ensaio com a orquestra juvenil e jogo de basquetebol.
Motorista pessoal
A gestão das “boleias” para as atividades extracurriculares é mais complexa do que o transporte para a escola. Com os passes gratuitos, habituei-as, desde o 5.º ano, a irem de autocarro. Só chamam a motorista pessoal, a mãe, quando estão sem amigas. É giro andar neste corrupio. Aliás, é espetacular. Quando as levo ao basquetebol, se não tenho recados da minha mãe, faço caminhadas durante o treino. Em vez de andar para cima e para baixo a gastar gasóleo, gasto calorias. Já emagreci 20 quilos.
O Edgar é eletricista na construção civil e faz sempre o jantar. Muito frango, peru e peixe, que ele gosta de pescar. Têm de ser pratos simples, que agradem a todos. Não é o caso do atum ou do bacalhau, por exemplo. Com as gémeas, deixámos de ir jantar fora. Em quase 13 anos, fomos apenas em quatro ou cinco dias especiais. Estou a excluir restaurantes de fast food, mas mesmo a esses é raro irmos. A despesa paga várias refeições em casa.
Aceitei facilmente que ia ter quadrigémeos. Só quando comecei a fazer as contas é que me caiu a ficha
Só fizemos férias uma vez. Em 2016, passámos uma semana em Portimão, em casa de um tio do Edgar. Cada um levou uma mochila e prevaleceu a lei do desenrasca. Protetor solar colocado em casa, praia de manhã, almoço prático, sesta à tarde, jantar cedo e, pelas 20 horas, saíamos para mostrar o Algarve às crianças. Adoraram. Está nos planos levá-las a conhecer o resto do Algarve e o Gerês, que a minha mãe nasceu lá. É a minha grande falha para com as minhas filhas. Sou uma mãe abençoada.