Uma equipa de geólogos russos, pertencentes à estatal Alrosa, deverão rumar a Moçambique ainda este ano, para se encontrar com responsáveis do Ministério das Minas e para alargar a área de exploração de diamantes, que atualmente se concentra no Zimbabué e em algumas áreas da fronteira daquele país com o da antiga colónia portuguesa. A revelação foi feita por Sergey Ivanov, CEO da Alrosa, depois de uma audiência com o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, à margem da cimeira Rússia-África que aconteceu na semana passada. “Temos a certeza de que Moçambique pode ser rico em diamantes, que estes diamantes podem ser vendidos e trazer benefícios para a população de Moçambique”, acrescentou ainda Ivanov citado pelo jornal A Carta.
Recentemente, fonte com operações naquele país africano confirmou à VISÃO um crescente interesse da Rússia em Moçambique, em áreas que podem ir muito para além dos diamantes. Os contactos entre russos e moçambicanos, clarificou a mesma fonte, têm-se intensificado nos últimos meses, uma vez que é possível preencher um espaço que se torna cada vez mais apelativo para o Oriente. Com a China já dentro do país e os EUA de olho nas reservas de gás na zona de Cabo Delgado, os russos deverão ser os próximos a querer um lugar de destaque.
Recentemente, Putin afirmou que qualquer país que queira continuar a ser uma potência económica deve fazer negócios com o continente africano, para onde a Rússia tem exportado sobretudo armamento e produtos alimentares. Nos últimos cinco anos, os negócios com África renderam a Putin cerca de 20 mil milhões de dólares, revelou o presidente russo recentemente citado pela imprensa internacional.
Recuperação lenta, conflitos e olhos no futuro
Entretanto, em Maputo, a RENAMO continua a contestar o resultado das eleições gerais de 15 de outubro que reconduziram Nyusi no cargo, com mais de 70% dos votos. O mandatário da RENAMO, Venâncio Mondlane, citado pela Deutsche Welle, acusa a Comissão Nacional de Eleições de ter realizado uma sessão plenária sem legitimidade – a mesma que aprovou o resultado das eleições. “A sessão de centralização nacional e de apuramento geral é feita pela Assembleia de centralização nacional – o plenário da CNE e os mandatários de todos os partidos – na presença dos observadores, da imprensa e outros interessados”, diz Mondlane. Por essa razão, o partido que tinha como candidato Ossufo Momade contestou novamente os resultados, com o apoio de outros sete partidos da oposição. “Que eu saiba, eles também submeteram recursos ao Conselho Constitucional e o nosso processo não vai ser avaliado antes de se responder em acórdão aos recursos dos partidos que têm alguma reclamação e que submeteram ao Conselho Constitucional”, afirmou, citado pelo mesmo orgão de comunicação Abdul Carimo, presidente da CNE, que também fez saber que os resultados das eleições foram já submetidos ao Conselho Constitucional. É suposto haver uma decisão e anúncio sobre as eleições gerais perto do Natal.
Tudo isto acontece enquanto milhares de moçambicanos continuam a tentar recuperar daquele que já foi considerado o pior ciclone da história de Moçambique, e que terá matado cerca de um milhar de pessoas. O Idai chegou à Beira a 14 de março de 2019, destruiu cidades inteiras, arrasou culturas e tirou tudo a quem já tinha muito pouco. Sem casa, sem alfaias agrícolas e com poucas sementes, teme-se que os próximos meses sejam bastante duros para os milhares de desalojados da região centro do país.
Ao mesmo tempo, um pouco mais a norte, cerca de 1200 famílias vítimas do Kenneth no distrito de Macomia, centro de Cabo Delgado, receberam recentemente ajuda da Agência de Desenvolvimento Económico Local de Cabo Delgado, num projeto financiado pela OXFAM, que os dotou com produtos e ferramentas agrícolas de forma a conseguirem voltar a cultivar as suas hortas (machambas).
As informações chegam dias depois de o diretor do departamento de África do Fundo Monetário Internacional, Abebe Selassie, abrir as portas a um regresso àquele país, que atualmente se debate também com uma profunda crise financeira. “Se houver um pedido para um programa de médio prazo, estaremos felizes em olhar para esse assunto e levar à consideração”, afirmou o antigo chefe de missão do FMI em Portugal, aquando do resgate financeiro pedido pelo governo de José Sócrates em 2011. Aquando do Idai, o FMI respondeu com um empréstimo de emergência de 118,2 milhões de dólares, recordou o responsável. “Nós dispensámos alguns recursos para ajudar a aliviar o impacto disso, portanto o nosso compromisso, de forma a fornecer este tipo de ajuda de emergência e conselho de políticas, tem continuado”.
Selassie respondia a uma questão da agência Lusa durante os encontros anuais da instituição que decorreram em Washington, recentemente. É a primeira vez que o FMI admite voltar a prestar assistência financeira a Moçambique depois de descobertos 2 mil milhões de dólares em dívidas ocultas no país. Sobre isso, Selassie referiu que há “necessidade de uma explicação para tentar entender para que efeitos foram contraídas as dívidas e que recursos foram usados” mas que “é bom ver, mais recentemente, os procedimentos que resultaram das investigações que as autoridades (…) e outras jurisdições têm empreendido”.
Em 2016 o Fundo Monetário Internacional, então liderado por Christine Lagarde, suspendeu a assistência financeira que prestava a Moçambique, e que previa uma ajuda de 282,9 milhões de dólares, na sequência da descoberta das dívidas ocultas. “Como resultado das dívidas ocultas, a dívida [soberana] estava numa situação insustentável e tinha de haver uma forma de assegurar que a dívida era levada a níveis sustentáveis”, recordou esta segunda-feira, 21 de outubro, Selassie.
Investigações levadas a cabo deram conta de que terá sido montada uma operação de financiamento para para criar as empresas públicas moçambicanas Ematum, Proindicus e MAM. Tudo isto terá acontecido durante o mandato do Presidente Armando Guebuza e já houve vários detidos na sequência desta investigação, nomeadamente o antigo ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang.