*** Carla Mendes, da Agência Lusa ***
Brasília, 13 Mar (Lusa) – O ministro brasileiro Roberto Mangabeira Unger, que foi professor de Barack Obama na Universidade de Harvard, considera o Brasil como o país no mundo mais parecido com os Estados Unidos e defende uma grande volta nas relações bilaterais.
“Este é o momento para o casamento da audácia com a imaginação”, disse à Lusa o ministro de Assuntos Estratégicos do Governo Lula da Silva, que vê a oportunidade de duas grandes frentes inteiramente novas de colaboração com os Estados Unidos.
Essas frentes, segundo Unger, teriam o potencial de transformar radicalmente as relações não só do Brasil, como de toda a América do Sul com os EUA.
A primeira delas seria engajar os Estados Unidos num conjunto de experiências institucionais e de políticas públicas ao serviço da inclusão social e da ampliação de oportunidades económicas e educacionais.
Três sectores despontam neste projecto: os agrocombustíveis e as energias renováveis, as pequenas e médias empresas, com acesso à tecnologias e práticas avançadas, e a educação.
A outra frente citada por Unger seria a construção de uma resposta comum aos efeitos da crise financeira e económica mundial, focada na economia real e na sua democratização.
Na opinião do ministro, que é professor vitalício da Universidade de Harvard e membro eleito da prestigiada Academia Americana de Artes e Ciências, as semelhanças entre os dois países são muitas, embora não sejam reconhecidas nem pelos norte-americanos nem pelos brasileiros.
Mangabeira Unger lembrou que Brasil e EUA têm um tamanho quase idêntico, foram criados na mesma base de povoamento europeu e escravidão africana, são multi-étnicos e muito desiguais.
“Paradoxalmente, nos dois países, a maior parte dos homens e das mulheres continua a julgar que tudo é possível. São raízes que fervilham de vitalidade”, completou.
Para Unger, é chegado o momento de Brasil e Estados Unidos terem um engajamento profundo, que passaria pela organização do mercado mundial de biocombustíveis para transformá-los em “commodities” e pelo trabalho conjunto nos chamados agrocombustíveis de segunda geração.
Esses biocombustíveis são produzidos sem ampliação da área plantada, pois a sua matéria-prima é constituída pelos resíduos de outras culturas.
“Se avançarmos nessas direcções, todas as rivalidades anteriores serão mais susceptíveis à reconciliação”, afirmou o ministro, numa alusão às disputas comerciais entre o etanol americano, produzido a partir do milho, e o brasileiro, feito da cana-de-açúcar.
Unger destacou que, ao contrário de outras regiões do mundo, há uma agenda exclusivamente positiva no hemisfério ocidental, onde não entram guerras, conspiração ou terrorismo.
“Estamos discutindo com os americanos uma série de alternativas possíveis. A nós interessa mudar o rumo da discussão mundial e trazer o foco para a economia real, para a produção e para a democratização do aparelho produtivo. E é melhor fazer isso junto com os Estados Unidos”, acrescentou.
Questionado sobre uma possível manifestação dos EUA em relação à pretensão brasileira de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, Unger esquivou-se a falar no assunto, alegando que nunca abordou o tema com os norte-americanos.
O ministro admitiu ter grande admiração pelo novo Presidente dos Estados Unidos, que foi seu aluno em Harvard no início dos anos 90, mas criticou a obsessão dos media por Barack Obama.
Segundo Unger, Obama tem três dos quatro atributos mais importantes para um homem de Estado: coragem, tenacidade e esperança.
“Se ele tem ou não, na medida necessária, o quarto atributo, que é a visão, é cedo demais para dizer”, completou.
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