A VISÃO oferece Cândido ou o Optimismo, de Voltaire
Conhecido pela sua rebeldia e pelo facto de fazer pouco caso dos preceitos católicos, François Marie Arouet, ou simplesmente, Voltaire, ficou para a História como um dos primeiros contestatários do abuso do poder religioso e de Estado, e um dos inspiradores da Revolução Francesa. Natural de Paris, onde nasceu em 1694 numa família abastada, teve uma educação jesuíta e destacou-se desde cedo pelo seu brilhantismo. Preso duas vezes, devido à sua poesia irreverente e mais tarde a uma discussão com um príncipe, seria exilado.
Foi para Inglaterra, aproximou-se das ideias reformadoras e, quando regressou a França, em 1728, fez o que se pode chamar uma oposição ao regime instituído, escrevendo contra o dogmatismo religioso, apelando à liberdade de pensamento, criticando o absolutismo francês, chocando o mundo católico quando explicou as catástrofes naturais, como o Terramoto de Lisboa, como sendo isso mesmo, naturais, e não castigo divino. Deus não era o centro do mundo de Voltaire, mas o homem, como deixou implícito em Cândido ou o Optimismo, uma obra fortemente contestada pelos seus opositores que o fez recolher-se em Ferney, nos Alpes franceses (entretanto chamada Ferney-Voltaire). O poeta inglês W.H. Auden escreveria um poema acerca da relação entre Voltaire e Ferney. “Lá longe, em Paris, onde se ouviam murmurar/ Seus inimigos, a dizer que ele era vil…” De lá, produziria grande parte da sua obra de que constam mais de 70 títulos.
Entre eles, a tragédia Tancredo, o Tratado Sobre a Tolerância, ou o Dicionário Filosófico. O seu pensamento, que colocava a razão e a ciência acima do religioso, esteve na base do Iluminismo contra todo o tipo de dogmas. Dessa corrente, nasceria a Revolução Francesa que viria a deturpar muitas, e mesmo a rejeitar, das ideias defendidas por Voltaire, entre elas a liberdade de imprensa, instaurando um novo tipo de poder absoluto.
A diversidade do seu pensamento foi tão vasta quanto é vasta a ação humana. Político, religioso, científico, jurídico, social, artístico.
Polémico, gostava de uma boa discussão e de dividir opiniões.
Preconizava o pensamento filosófico, defendia os direitos civis, mas nunca foi, no entanto, aquilo a que se pode chamar de democrata. As classes mais baixas, acreditava ele, não passavam de fiéis seguidores do fanatismo.
Morreu em Paris, 30 de maio de 1778, 11 anos antes da revolução que ele ajudou a construir e que mudaria o mundo.