É uma obra a vários títulos excecional, desde logo pela forma como a ela se chegou e pela ‘dimensão’. Ou seja, primeiro, porque conseguiu que 25 conhecidos poetas – entre eles nomes cimeiros de várias gerações, com destaque para Sophia e Eugénio de Andrade, mas também, por exemplo, Pedro Tamen, Assis Pacheco, Graça Moura, Fiama, Gastão Cruz, Nuno Júdice, entre muitos outros – para ela indicassem os seus poemas de língua portuguesa preferidos. O que é “obra”, que só o entusiasmo e a persistência de um editor como José da Cruz Santos, e o seu amor á poesia (que tanto lhe deve, incluindo alguns daqueles poetas, Jorge de Sena e muitos mais), alcançaria realizar, ao fim de muitos anos. Segundo, pela dimensão, em sentido “físico”, da obra, corporizada em dois volumes num total de 1256 páginas, divididas por dois volumes, de capa dura, bom papel e grafismo de Rui Mendonça – na linha de outros livros da mesma chancela, a Modo de Ler.
O título é Os mais belos poemas portugueses escolhidos por vinte e cinco poetas. Quanto ao “resultado” das escolhas, pelo menos algumas inclusões são “supreendentes”, e algumas exclusões não o são menos… Os poemas escolhidos, de mais de 120 autores, vão de Afonso X a Paulo Teixeira, por ordem cronológica, com organização, introdução e notas de Luís Adriano Carlos, prof. da Faculdade de Letras do Porto, ensaísta e poeta. Mas, além de editor, o coordenador do livro e quem teve a sua ideia e iniciativa foi o homem que, muito novo, dirigiu a Portugália, e, mais tarde, coleções na ASA, fez a Oiro do Dia, a Inova, etc. Por isso o ouvimos.
Jornal de Letras: Como surgiu a ideia deste obra?
José da Cruz Santos: Quando há uns anos pensei publicar 25 Obras-Primas da Poesia Portuguesa e 25 Obras-Primas da Pintura Portuguesa pedi a 25 poetas e a 25 artistas, respetivamente, que as escolhessem. À medida que as respostas iam chegando dava-me conta de que alguns (em minha opinião) dos mais belos poemas portugueses não atingiriam a votação necessária para fazerem parte dos 25.
Por exemplo?
Olhe: “Floriam por engano as rosas bravas”, de Camilo Pessanha; “Pequena Elegia de Setembro”, de Eugénio de Andrade; “Nó Cego, o Regresso”, de Vasco Graça Moura; “Cabecinha Romana de Milreu”, de Jorge de Sena; “Meditação do Duque de Gandia sobre a morte de Isabel de Portugal”, da Sophia; “Introdução ao Tempo”, de Luiza Neto Jorge. Estes, entre muitos e muitos outros. Decidi então preparar uma edição com todas as respostas. Com as 25 respostas de cada poeta, que só não são 625 porque há repetições, mas que formam, a meu ver, a mais importante antologia da poesia portuguesa.
Entre os poetas que responderam estão cinco já desaparecidos, e a Sophia há 13 anos, o que quer dizer que houve um muito longo período de tempo entre as escolhas, que não incluem poemas de pelo menos a última década e meia, e esta edição.
Sim, o tempo foi passando, as dificuldades foram-se somando numa pequena editora que nunca teve subsídios, nem quaisquer apoios, e também não era fácil a organização do volume, nem o seu prefácio e notas. Um dia bati à porta de um excelente professor de literatura e também notável poeta, que tinha e tem o defeito de ser meu amigo: o Luis Adriano Carlos. E a edição fez-se com os vagares do rigor que a obra exigia. Pensei então nela para assinalar os 50 anos da criação da Editorial Inova, que decorrem este ano, mas quiseram as voltas que a vida dá que coincidisse também com as vésperas dos 60 anos sobre a minha primeira edição, já de poesia, em 1958: Poema para uma Bailarina Negra, de Alfredo Margarido.
E quantos livros de poesia já editou?
Este deve ser a 361º ou 362ª. É verdade que passaram vários anos sobre a sua escolha, e coordenação, mas passaram também 52 anos sobre esse monumento da cultura portuguesa e europeia que é A Epistolografia em Portugal, da tão excecional como esquecida profª Andrée Crabbé Rocha, e ainda nenhuma outra lhe pôs o pé à frente.
Satisfeito com esta edição e o balanço do trabalho?
Se nasci para publicar esta homenagem única à Poesia Portuguesa, o único género literário em que somos iguais aos maiores, deixem-me com a minha ilusão de que fui útil e não me perguntem mais nada, porque também nada peço, aos 70 anos de trabalho e 60 de editor.JL